DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A falta de interdição nas cidades favelizadas resultou em uma espécie de urbanismo criminoso
Com o atraso denunciado em uma quantidade inqualificável de mortes, o prefeito de Angra dos Reis adota uma providência administrativa que o põe à frente dos mais de 5.000 prefeitos brasileiros, no que seja respeito ao próprio dever, coragem política e contribuição social. Tal medida de Juca Brandão é a que proíbe construções e ampliações em 15 morros de Angra. Ao menos até que as perícias de geotécnica manifestem-se sobre a segurança das áreas.
A falta de tal interdição nas cidades favelizadas, proveniente apenas da conveniência eleitoreira, resultou em uma espécie de urbanismo criminoso, que tantos administradores públicos têm praticado por tão longo tempo, com a permissão para o crescimento de favelas (formas de degradação da vida urbana) e para a especulação imobiliária (como degradação também da natureza).
Se não era possível conter a debandada rural para cidades grandes, sob auspícios das problemáticas oportunidades de ascensão econômica, um mínimo de orientação e racionalidade todos os administradores públicos de tais cidades e Estados deviam estabelecer, até por obrigação preliminar. Mas os novos conglomerados não foram vistos como acréscimos de gente, de pobreza e da necessidade de ação: aos olhos dos políticos, o que chegava e se instalava eram votos disponíveis.
A atitude das administrações não foi e não é, por acaso, uma tolerância por compreensão social, como pretendem tantos argumentos atenuadores dos problemas implícitos na favelização, pelo país todo? As condições deprimentes das favelas ("onde o Estado não entra", admitem os mesmos argumentos) têm as assinaturas daqueles todos que permitiram, ou permitem ainda, o seu surgimento indiscriminado e crescimento alucinado.
Perversidade que segue, por si mesma, um processo de evolução sob as mesmas responsabilidades: favelas hoje são áreas também de especulação imobiliária, com a criação da indústria das lajes e da expansão sorrateira.
O "choque de ordem", que o recém-prefeito carioca Eduardo Paes tenta aplicar no Rio, demoliu como exemplo um vasto prédio que se alastrava em uma favela. O exemplo ficou para quem não mora em favela, lê jornal e assiste à TV: sobreposição de quatro, cinco andares, sobre bases precárias, e muitas delas expulsando ou sufocando vizinhos a poder de violências, continuam a subir. A indústria da laje é o enriquecimento, relativo, mas enriquecimento, à custa da subcondição favelada. Sempre sob o patrocínio da conveniência eleitoreira.
As vidas que correm risco ou se perdem com as ocupações sem critério, permitidas porque ricas ou porque pobres, não jamais foram as dos administradores públicos.
De volta
O professor Alfredo Bosi atribui a Marco Antônio Coelho a iniciativa de demitir-se da publicação "Estudos Avançados", assunto que foi pequena parte de nota aqui publicada. Sem discutir versões, registro também, a propósito, o final da cópia que o professor me mandou de carta sua ao afastado: "Enquanto esses juízos não forem retirados, não vejo condições morais para restabelecer o trabalho comum".
Refere-se ao que considerou "juízos arbitrários e injustos" de Marco Antônio Coelho a propósito da recusa, pelo editor Alfredo Bosi, de artigo do presidente do PPS, Roberto Freire, para um dossiê sobre a "Crise do Congresso". O que explica por Roberto Freire não ser congressista, como os outros políticos publicados, daí resultando a "decisão de afastar-se" tomada por seu editor-executivo, "desgostoso por não ver publicado (...) um artigo do seu líder partidário". Não fiz referência a esses aspectos, até por não ter proximidade com os dados como líder e liderado.
O professor Alfredo Bosi considerou "infamante" o termo fascistoide "lançado ao (seu) rosto".
Mas a palavra não se dirigiu ao professor Alfredo Bosi: serviu de título ao episódio de uma tríplice censura (cortes também em dois artigos de congressistas), razão de ser da nota.
A falta de interdição nas cidades favelizadas resultou em uma espécie de urbanismo criminoso
Com o atraso denunciado em uma quantidade inqualificável de mortes, o prefeito de Angra dos Reis adota uma providência administrativa que o põe à frente dos mais de 5.000 prefeitos brasileiros, no que seja respeito ao próprio dever, coragem política e contribuição social. Tal medida de Juca Brandão é a que proíbe construções e ampliações em 15 morros de Angra. Ao menos até que as perícias de geotécnica manifestem-se sobre a segurança das áreas.
A falta de tal interdição nas cidades favelizadas, proveniente apenas da conveniência eleitoreira, resultou em uma espécie de urbanismo criminoso, que tantos administradores públicos têm praticado por tão longo tempo, com a permissão para o crescimento de favelas (formas de degradação da vida urbana) e para a especulação imobiliária (como degradação também da natureza).
Se não era possível conter a debandada rural para cidades grandes, sob auspícios das problemáticas oportunidades de ascensão econômica, um mínimo de orientação e racionalidade todos os administradores públicos de tais cidades e Estados deviam estabelecer, até por obrigação preliminar. Mas os novos conglomerados não foram vistos como acréscimos de gente, de pobreza e da necessidade de ação: aos olhos dos políticos, o que chegava e se instalava eram votos disponíveis.
A atitude das administrações não foi e não é, por acaso, uma tolerância por compreensão social, como pretendem tantos argumentos atenuadores dos problemas implícitos na favelização, pelo país todo? As condições deprimentes das favelas ("onde o Estado não entra", admitem os mesmos argumentos) têm as assinaturas daqueles todos que permitiram, ou permitem ainda, o seu surgimento indiscriminado e crescimento alucinado.
Perversidade que segue, por si mesma, um processo de evolução sob as mesmas responsabilidades: favelas hoje são áreas também de especulação imobiliária, com a criação da indústria das lajes e da expansão sorrateira.
O "choque de ordem", que o recém-prefeito carioca Eduardo Paes tenta aplicar no Rio, demoliu como exemplo um vasto prédio que se alastrava em uma favela. O exemplo ficou para quem não mora em favela, lê jornal e assiste à TV: sobreposição de quatro, cinco andares, sobre bases precárias, e muitas delas expulsando ou sufocando vizinhos a poder de violências, continuam a subir. A indústria da laje é o enriquecimento, relativo, mas enriquecimento, à custa da subcondição favelada. Sempre sob o patrocínio da conveniência eleitoreira.
As vidas que correm risco ou se perdem com as ocupações sem critério, permitidas porque ricas ou porque pobres, não jamais foram as dos administradores públicos.
De volta
O professor Alfredo Bosi atribui a Marco Antônio Coelho a iniciativa de demitir-se da publicação "Estudos Avançados", assunto que foi pequena parte de nota aqui publicada. Sem discutir versões, registro também, a propósito, o final da cópia que o professor me mandou de carta sua ao afastado: "Enquanto esses juízos não forem retirados, não vejo condições morais para restabelecer o trabalho comum".
Refere-se ao que considerou "juízos arbitrários e injustos" de Marco Antônio Coelho a propósito da recusa, pelo editor Alfredo Bosi, de artigo do presidente do PPS, Roberto Freire, para um dossiê sobre a "Crise do Congresso". O que explica por Roberto Freire não ser congressista, como os outros políticos publicados, daí resultando a "decisão de afastar-se" tomada por seu editor-executivo, "desgostoso por não ver publicado (...) um artigo do seu líder partidário". Não fiz referência a esses aspectos, até por não ter proximidade com os dados como líder e liderado.
O professor Alfredo Bosi considerou "infamante" o termo fascistoide "lançado ao (seu) rosto".
Mas a palavra não se dirigiu ao professor Alfredo Bosi: serviu de título ao episódio de uma tríplice censura (cortes também em dois artigos de congressistas), razão de ser da nota.
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