Michel Temer, Aloizio Mercadante e Ideli Salvatti tentarão acalmar descontentes que prometem votar projetos de aumentos de gastos caso o Planalto não mude a estratégia de relacionamento com os integrantes da base
Paulo de Tarso Lyra
Presidente Dilma espera que seus articuladores políticos descubram uma saída para evitar mais problemas
O vice-presidente Michel Temer e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais) tentam, a partir de hoje, conter um foco de rebelião de aliados da Câmara que envolve cerca de 250 parlamentares. Com a presidente Dilma Rousseff viajando para Bruxelas, caberá ao trio tentar diminuir a insatisfação de líderes de partidos como o PR, PTB, PP e PMDB, que decidiram, na semana passada, compor um bloco informal para pressionar o Planalto e isolar o PT.
Ainda em Roma, para onde viajou para assistir à nomeação de dom Orani Tempesta como novo cardeal da Cúria Romana, Dilma Rousseff tentou demonstrar pouca preocupação com as pressões dos ainda aliados. "Acho que tem muito de especulação. E eu não vou, de fato, me manifestar sobre especulação. Vamos ver o que acontece de fato", disse ela.
O anúncio do encontro mostra, na verdade, que Dilma não pretende esperar "para ver o que acontece de fato". Além de ser o presidente em exercício do país durante a viagem de Dilma ao exterior, Temer foi escolhido para ser um dos interlocutores porque, na linha de frente do bloco rebelde, está o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Cunha confirmou ao Correio ter sido convidado por Temer para uma conversa, no fim da tarde de hoje, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente. "Nós podemos conversar, não há nenhum problema nisso. Mas isso não vai mudar em nada a nossa opinião e a nossa decisão (em formar o bloco)", assegurou o líder peemedebista.
Uma das formas encontradas pelo grupo para chantagear o Planalto será acelerar a votação de projetos que trancam a pauta da Casa para incluir outros temidos pelo governo, como o piso único dos agentes comunitários de Saúde e a Proposta de Emenda à Constituição que equipara os vencimentos de policiais e bombeiros de todo o país aos salários pagos aos mesmos profissionais no Distrito Federal. "Esse pode ser o primeiro desafio do grupo. Destrancar a pauta para o Legislativo legislar", disse um dos principais caciques do grupo.
Cunha garantiu que não existe qualquer intenção de trazer o PT para o bloco dos insatisfeitos, embora os petistas também estejam esbravejando pelos cantos do Congresso contra a presidente Dilma Rousseff. As duas turmas, inclusive, expuseram as queixas no mesmo dia — quarta-feira passada — no mesmo prédio da Asa Norte, embora em andares diferentes: os petistas estavam no primeiro andar e os demais insatisfeitos, no terceiro andar de um edifício reservado a apartamentos funcionais de deputados.
Petistas
O quartel-general dos petistas foi o apartamento do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR) — o mesmo que repetiu o gesto de punho fechado dos mensaleiros como uma provocação ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa. A reclamação do grupo é da pouca representatividade do PT da Câmara nas decisões de governo. Desde a saída de Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais, eles tentam emplacar um deputado no ministério. Primeiro, foi o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (SP). Depois, o ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS), seguido pelo atual líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (SP). A última tentativa foi o ex-ministro da Previdência e ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP).
Os integrantes dos demais partidos queixam-se que a presidente Dilma resolveu os problemas dos ministros petistas que serão candidatos em outubro — Alexandre Padilha (São Paulo), Gleisi Hoffman (Paraná) e Fernando Pimentel (MG) — e ainda não sabe como fazer as substituições dos demais ministros que também deixarão os cargos para concorrer nas eleições deste ano.
Como mostrou a coluna Brasília-DF de ontem, esses ministros começaram a reclamar a interlocutores da presidente Dilma sobre a demora. Como a Copa do Mundo será no Brasil, eles sabem que os meses de junho e julho — quando começam efetivamente as campanhas — serão mortos do ponto de vista da atenção do eleitorado. Por isso, precisariam deixar a Esplanada o mais rápido possível para percorrer os redutos eleitorais e se tornarem mais conhecidos pela população.
Fonte: Correio Braziliense
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