Cristian Klein – Valor Econômico
SÃO PAULO - O Norte e o Nordeste são as regiões que concentrarão a maior proporção de disputas a governador polarizadas na eleição deste ano. Em 12 das 16 corridas estaduais destas regiões (75%), a maioria dos principais partidos se agrupou em torno de apenas dois candidatos, de acordo com levantamento do Valor Data que prevê o tempo dos programas eleitorais no rádio e TV dos 171 candidatos a governador, com base nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A taxa pode aumentar para 81% caso o PSDB de Alagoas se retire da disputa com a desistência, ontem, de seu candidato, Eduardo Tavares.
No Ceará, haverá a maior concentração nos programas de 20 minutos no rádio e TV. O deputado estadual Camilo Santana (PT), escolhido pelo clã do governador Cid Gomes (Pros) à sucessão, e seu principal adversário, o senador Eunício Oliveira (PMDB), terão juntos 80% (16 minutos) do horário eleitoral gratuito. O petista ocupará 46% do espaço de propaganda contra 34% do pemedebista - o que deixa pouco espaço para uma terceira via. Palanque do presidenciável e correligionário Eduardo Campos no Estado (PSB), Eliane Novais lançou-se sem coligação e terá apenas 11% (2 minutos).
Por outro lado, o campeão de tempo de TV entre os 171 candidatos a governador também é do PSB e está no Nordeste. É o ex-secretário de Fazenda de Pernambuco, Paulo Câmara, escolhido por Campos para a sucessão em seu Estado. Câmara, que é sustentado pela maior coligação a governador - com 21 partidos dos 32 do país -, disporá de mais da metade (52%) do horário eleitoral. Ele polarizará com o senador Armando Monteiro (PTB) e que terá 24% do tempo de TV. Pernambuco registra a sexta maior concentração de propaganda eleitoral nos dois principais candidatos.
Depois do líder Ceará, Sergipe (PMDB x PSC) e Rio Grande do Norte (PMDB x PSD) despontam com os maiores latifúndios no tempo de TV - respectivamente, 79% e 78% - a serem ocupados pelos dois polos da disputa. Em seguida vêm Maranhão (PMDB x PCdoB) e Acre (PSDB x PT), com 77%.
No Norte, mais quatro Estados têm alta concentração na propaganda eleitoral: Pará (PMDB x PSDB), Amazonas (PMDB x Pros), Roraima (PSB x PT) e Tocantins (SD x PMDB), totalizando cinco das sete unidades da Federação da região. Ou seja, 71% estão no topo da tabela. No Nordeste, a taxa é ainda maior: sete entre os nove Estados (78%) terão confrontos polarizados, ao menos quanto ao tempo de TV. Bahia (PT x DEM) e Piauí (PMDB x PT) completam a lista. Das 12 unidades da Federação com maior concentração de tempo de TV nos dois principais candidatos, todas são da região Norte ou Nordeste. Acima do limiar de 70% de concentração, figuram ainda Minas Gerais (PSDB x PT) e Mato Grosso (PT x PDT).
Na outra ponta, aparece um Estado nortista, que terá a maior fragmentação entre os 27. É o Amapá, onde cinco candidatos se acotovelarão no horário eleitoral e os dois maiores tempos de TV corresponderão a apenas 44%. Lucas Barreto (PSD) terá 23% e Waldez Góes (PDT), 21,3%. Serão seguidos de perto pelo governador Camilo Capiberibe (PSB), com 21%, Bruno Mineiro (PTdoB), 14%, e Jorge Amanajás (PPS), 10%.
Em 2010, o Amapá teve o processo eleitoral mais tumultuado do país, quando Góes, então governador, foi preso em operação da Polícia Federal, e Capiberibe, que largou em quarto lugar nas pesquisas, elegeu-se no segundo turno.
O segundo Estado com propaganda menos concentrada (50%) será o Rio Grande do Sul, onde a reeleição do petista Tarso Genro é ameaçada por três blocos: o liderado pela senadora Ana Amélia (PP), atrás de quem o governador aparece nas pesquisas de opinião; o do pemedebista José Ivo Sartori; e o do deputado federal Vieira da Cunha (PDT).
O caso gaúcho, no entanto, mostra como nos cenários fragmentados a correlação entre tempo de TV e intenção de voto nem sempre é direta. Outros recursos políticos podem catapultar o candidato. Ana Amélia, que foi apresentadora de TV e disputou eleição majoritária em 2010, tem imagem amplamente conhecida no Estado. Lidera a corrida e é favorita, ao lado do governador, embora terá o terceiro maior programa eleitoral (19%), atrás de Genro (26%) e Sartori (24%). Cunha contará com 12% do espaço.
Em contraste ainda maior aparece o senador Marcelo Crivella (PRB), que está à frente da disputa no Rio, ao lado do ex-governador Anthony Garotinho (PR), ambos com 24%, de acordo com pesquisa Datafolha deste mês.
Crivella tem reduto entre os evangélicos e participou de várias eleições majoritárias. Mas concorre sem coligação e contará com cerca de 6% do horário eleitoral - pouco mais de um minuto de programa. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), com 44%, terá propaganda sete vezes e meia maior. O senador petista Lindbergh Farias, com 22%, terá quase quatro vezes mais espaço e Garotinho, com 12%, um pouco mais do que o dobro.
Crivella é o concorrente considerado competitivo com o pior tempo de TV no país. Não consta entre os cem maiores programas eleitorais. Nas últimas três eleições no país, só seis (5%) de 108 candidatos a governador que dispunham do quarto maior tempo se elegeram no primeiro turno ou chegaram à segunda etapa. "A correlação entre propaganda eleitoral e o resultado das urnas é muito alta. Se o candidato tem o maior tempo, a maior probabilidade (70%) é que fique em primeiro lugar; se tem o segundo, a maior chance é que fique em segundo lugar; e assim por diante", afirma o cientista político Felipe Borba, do Iesp/Uerj.
Em São Paulo, haverá relativamente pouca concentração e a disputa orbitará em torno de três nomes: o presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que ocuparão 53%, além de Alexandre Padilha (PT). Será pouca a diferença entre os três: 29% (Skaf), 24% (Alckmin) e 21% (Padilha).
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