• Nova posição de São Paulo pode ajudar Aécio
- Valor Econômico
Se o desgaste de Aécio Neves com o caso do aeroporto construído em terreno de parentes no município de Cláudio (MG) não atrapalhar o roteiro preparado, o PSDB espera para os primeiros dias de agosto a declaração do governador do Amazonas, José Melo (Pros), e do antecessor, Omar Aziz (PSD), de apoio à candidatura do tucano à Presidência da República.
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), só aguarda o anúncio para receber Aécio com um evento "gigantesco", dando a largada da campanha presidencial tucana no Estado onde Dilma Rousseff teve sua maior vitória proporcional no segundo turno da eleição de 2010, com 80% dos votos válidos.
Melo concorre à reeleição e Aziz, ao Senado. São aliados de Dilma, mas fizeram aliança local com o PSDB e mantêm suspense sobre a candidatura presidencial que irão apoiar. O PT optou por coligação com o senador Eduardo Braga (PMDB), candidato a governador.
O engajamento de Arthur Virgílio na campanha da chapa do governador é forte sinal de acordo pró-Aécio. "Quem me conhece sabe que eu jamais me prestaria ao papel de sublegenda da Dilma. O palanque de quem está comigo é de Aécio", diz o prefeito.
Melo e Aziz foram avisados de que Arthur Virgílio não pedirá voto para os dois, se não fecharem palanque para o presidenciável do PSDB. Hoje com uma popularidade próxima aos 80%, segundo pesquisas, Arthur Neto - como é mais conhecido em Manaus - é importante cabo eleitoral no Estado. Sua gestão foi apontada como a mais bem avaliada do país por pesquisa CNI/Ibope divulgada em dezembro de 2013. A capital concentra quase 56% do eleitorado amazonense.
O governador, que aguarda desdobramentos de pleitos do Estado no governo federal, faz declarações dúbias. "A presidente Dilma tem feito muito pelo nosso Estado. Como governador, não posso desconhecer o quanto ela tem sido importante", diz. "Arthur é importante para minha eleição. É muito bem avaliado", afirma em seguida.
Já Omar Aziz tem feito críticas ao governo federal que sinalizam a opção por Aécio. Contrariando compromisso do PT nacional com o ex-governador amazonense, o PT local lançou um candidato - Francisco Praciano - para disputar com ele a vaga no Senado. A cúpula nacional contesta a candidatura de Praciano na Justiça Eleitoral, num esforço para manter a chapa de Melo e Aziz com Dilma.
Aécio conta com um cenário no Amazonas mais favorável ao PSDB do que o de 2010, quando Serra perdeu para Dilma no Estado por uma diferença de quase 1 milhão de votos, o que praticamente neutralizou a vantagem que o tucano obteve no Sul (1,2 milhão de eleitores). Foi o pior resultado de Serra no país.
No primeiro turno, o tucano (com 129.190 votos) perdeu até para a ex-ministra Marina Silva, que disputou a Presidência da República pelo PV. Hoje candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador Eduardo Campos (PSB), Marina recebeu, naquela votação, 392.170 votos no Amazonas, ficando em segundo lugar, atrás de Dilma (991.128 votos). Serra terminou o primeiro turno na terceira colocação.
O Amazonas é um Estado tão emblemático para Marina que ela é responsável pela escolha de Marcelo Ramos (PSB), ligado ao grupo Rede Sustentabilidade, para concorrer ao governo.
Outro esforço do PSDB para facilitar a campanha de Aécio em Manaus é tentar livrar o partido do carimbo de inimigo da Zona Franca de Manaus, reforçado principalmente por governos tucanos de São Paulo, que já adotaram várias medidas contra os incentivos fiscais do polo industrial.
Em 2012, em plena campanha de Arthur Virgílio à prefeitura, o governo Geraldo Alckmin propôs ação direta de inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando os benefícios concedidos pela ZFM. O ato foi explorado pelos adversários de Arthur Virgílio em Manaus e provocou rompimento temporário entre ele e Alckmin. Desta vez, o PSDB paulista parece mais flexível, ajudando a campanha de Aécio.
"Eu sou um senador por São Paulo, mas um senador por São Paulo é um senador pelo Brasil também. São Paulo só vai bem quando o Brasil vai bem. E a Zona Franca é um instrumento de desenvolvimento para o nosso país", disse o líder no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), candidato a vice-presidente na chapa de Aécio, na votação da emenda constitucional que prorrogou os incentivos fiscais da Zona Franca por mais 50 anos. Unificada por Aécio, toda a bancada votou a favor.
E o governo paulista pode ajudar ainda mais, segundo Arthur Virgílio. O prefeito participa ativamente de negociações entre os governos do Amazonas e de São Paulo para construção de um acordo em torno das alíquotas para bens de informática produzidos na Zona Franca. Se confirmado, o entendimento acabará com uma antiga pendência entre os dois Estados.
A ideia é que o governo paulista concorde em dar isonomia aos produtos de informática da Zona Franca. Hoje o ICMS dos bens de informática é de 12%, mas os bens produzidos na ZFM são taxados em 18%. A redução da carga tributária vai aumentar a competitividade dos produtos da Zona Franca.
No dia 16, enquanto aguardava a votação da emenda constitucional prorrogando os benefícios da Zona Franca no Senado, Arthur Virgílio participou de reunião no gabinete do deputado federal Pauderney Avelino (DEM-AM), em Brasília, com representantes da Suframa e das secretarias da Fazenda do Amazonas e de São Paulo.
Para o prefeito de Manaus, o gesto do governo Alckmin afastaria quaisquer desconfianças dos amazonenses contra o PSDB e fortaleceria o discurso de Aécio no Estado. Se tudo der certo, a ideia dos tucanos é que o acordo seja anunciado no Amazonas e não em São Paulo, onde não teria o mesmo efeito eleitoral.
"Meu trabalho vai ser dar uma votação expressiva para o Aécio lá. Se empatar [com Dilma] já é ótimo. Se perder de pouco, é ótimo. Se ganhar, é glorioso", afirma Arthur Virgílio.
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