quinta-feira, 24 de julho de 2014

Jarbas de Holanda: O 2º turno presidencial à frente e a guerra política em que será travada

A pesquisa do Ibope que começou a ser divulgada ontem à noite confirmou, com pequenas variações, dados básicos da processada pelo Datafolha logo após a Copa da Fifa, a respeito da disputa pelo Palácio do Planalto: queda da avaliação do governo, aumento da rejeição da presidente/candidata Dilma Rousseff e progressiva redução da vantagem dela sobre Aécio Neves no 1º turno e no 2º. Quanto à referida avaliação, no Datafolha a taxa de ótimo/bom caiu para 32% e a de ruim/péssimo cresceu para 29%, ao passo que no Ibope a negativa suplanta a favorável por 33% a 31%. A respeito do índice de rejeição, o da candidata governista chega a 35% na primeira pesquisa e se eleva a 36% na segunda, em comparação ao de 16% de Aécio e de 9% de Eduardo Campos. E ambos os levantamentos constatam a erosão da distância entre ela e seu principal adversário no 1º turno (no Datafolha, de 38% a 20% no começo de julho, e de 36% a 20% quinze dias depois, e no Ibope, de 40% a 20% em junho, para 38% a 22% agora). Assim como indicam uma evolução para igualdade entre o total das intenções de voto em Dilma e a soma das correspondentes aos demais candidatos. Apontando para o 2º turno entre ela e o adversário mais votado – no Datafolha já configurado um empate técnico no qual Dilma teria 44% contra 40% de Aécio, e no Ibope os dois ainda distanciados por 8 pontos, 41% a 33%, em vez de 43% a 24% na pesquisa de junho.

Tal empate, destacado nas manchetes sobre a pesquisa do Datafolha, e o progressivo encaminhamento para ele projetado pela do Ibope (um e outro tratados como possíveis de repetir-se se o concorrente da presidente for Eduardo Campos) reorientam a campanha reeleitoral de Dilma para um esforço concentrado no sentido de evitar a incerteza, crescente, de um embate a dois no 2º turno de 26 de outubro (com tempo igual no rádio e na televisão e confronto em debates dos quais um só poderá fugir com custoso desgaste), por uma vitória logo no 1º, três semanas antes.

Essa troca de prioridade, porém, é muito dificilmente viabilizável. Porque o equilíbrio já existente entre as intenções de voto em Dilma e as da soma dos outros candidatos tende a romper-se em desfavor dela em face do aumento de todos – que ocorrerá, mesmo que seja pequeno – dos índices de votos em Aécio e Campos, bem como nos dos chamados nanicos, entre os quais Luciana Genro, do PSOL, e Eduardo Jorge, do PV (os dois e mais quatro com apenas 1% até agora). E, em especial, o pastor Everaldo, em favor de quem desenvolve-se ampla aglutinação das lideranças evangélicas de maior peso representativo, que tem potencial para dobrar o índice de 3% que lhe tem sido atribuído nas pesquisas. Sem que nada disso deva afastar Dilma da liderança da disputa, mas reforçando o cenário do 2º turno. Até porque os concorrentes competitivos (e também os outros) terão enfim – apesar da grande superioridade de que Dilma disporá no horário “gratuito” – acesso a rádio e televisão, quase monopolizado até agora pela presidente/candidata e pela enorme publicidade de estatais.

Por isso, e porque ao longo dos próximos meses continuarão manifestando-se e agravando-se os efeitos políticos e sociais da piora em curso dos vários indicadores da economia, tem muito baixa ou nenhuma possibilidade de sucesso a aposta numa vitória de Dilma no turno inicial da disputa. A essa frustração devendo seguir-se uma intensa mobilização e do governo e do lulopetismo em torno da batalha do 2º turno. Que deverá começar com forte empenho do ex-presidente Lula para dividir e antagonizar os dois principais candidatos anti-Dilma. E que será desenvolvida num clima de exacerbada radicalização social (pobres contra ricos). Com um possível ingrediente a mais: a atração (que será tentada pela campanha reeleitoral para compensar o desgaste do petismo) de “movimentos sociais” como os dos Sem Teto e o Passe Livre para reforço das denúncias de desmonte dos programas assistencialistas no caso de derrota de Dilma. Atração já ensaiada pelo decreto que instituiu os “conselhos populares” (que provavelmente será rejeitado pelo Congresso).

Jarbas de Holanda é jornalista

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