- O Globo
Recessão é uma palavra maldita em qualquer idioma econômico. Em inglês, diz-se "the big R" (o grande R) para não falar a palavra fatal. Pois foi erro de um ministro sem experiência política como Joaquim Levy admitir em entrevista aqui em Davos que poderemos ter eventualmente uma recessão em algum trimestre este ano.
Depois ele retificou, afirmando que quisera dizer "contração" da economia, e não recessão, que tecnicamente é o crescimento negativo (outro paradoxo do economês) em dois trimestres seguidos. Como ele não havia falado em recessão no encontro com investidores naquele mesmo dia, parece claro que foi uma escorregadela sem maiores consequências.
Mas como está realmente no radar de muitos analistas a possibilidade de termos uma recessão este ano, ficou claro também que o ministro da Fazenda está com essa palavrinha maldita no inconsciente.
Assim como o ministro de Minas e Energia Eduardo Braga, ao admitir que poderemos ter um racionamento de energia, trouxe para o cenário político outro " Grande R" na história política recente brasileira, palavra que vem sendo abolida do vocabulário dos governantes, seja em relação à eletricidade, seja à água.
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin outro dia admitiu o que é uma realidade para milhares de paulistas e pode vir a ser também para cariocas e mineiros: há, sim, racionamento de água em São Paulo. Logo depois, claro, tentou explicar o inexplicável, voltando a falar em restrição hídrica e outras desculpas do gênero.
E o maior problema é que a falta de água provoca a falta de eletricidade - como lembrou o ministro Braga, que marcou um prazo: se as hidrelétricas chegarem a 10%, não é possível mover as usinas. E a falta de eletricidade provoca a falta de água, como aconteceu em São Paulo depois do apagão, quando 1,5 milhão de pessoas ficaram a seco em suas casas.
O novo ministro de Minas e Energia é um político experiente, ao contrário de Levy, foi governador de Estado e líder do Governo, não usou indevidamente a palavra racionamento, que havia sido banida do vocabulário do governo Dilma depois que ela deixou para a posteridade, ainda ministra de Minas e Energia, uma declaração que qualquer um pode pegar no You Tube garantindo que não haverá, em governo petista, racionamento como em 2001, no governo do PSDB.
Quando Eduardo Braga disse, por exemplo, que seria preciso rezar a Deus para termos um período mais úmido, quem estuda a questão e tem visão política acha que ele já sabe que haverá racionamento. Se houvesse alguma chance de superar essa questão sem um milagre, ele deixaria essa porta aberta para louvar depois a capacidade técnica do governo.
Ele só está caminhando passo a passo para não ser acusado de ter sido apanhado de surpresa. Braga, afinal, entende do assunto, não é um Edson Lobão da vida. E a possibilidade de racionamento, hoje já admitida pelos principais analistas da economia, pode trazer também a recessão tão temida.
Se a previsão de crescimento do PIB este ano, feita ainda neste janeiro, já é de uma economia "flat" como definiu o ministro Joaquim Levy em Davos, há estudos nos principais bancos e agências de investimento que transformam o crescimento de 0,3% (previsão do FMI), ou quase zero, em crescimento negativo como consequência do racionamento que pode vir.
Tudo dependerá de que maneira ele virá, se vier. Se for uma política governamental mais rígida como em 2001, com um teto de consumo e prêmios para quem economizar, o efeito será direto na economia, levando o PIB para abaixo de zero. Se for um racionamento como o consultor Adriano Pires diz que já existe, pelo aumento da tarifa de energia perto de 40% em cima do aumento que já houve, o efeito será menor, mas mesmo assim o PIB corre o risco de ser negativo.
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