• Doação legal a partidos foi apoteose da corrupção na estatal, diz Antonio Figueiredo Basto
Cleide Carvalho – O Globo
SÃO PAULO — A corrupção na Petrobras veio de dentro para fora e seu objetivo era similar ao do mensalão: manter o PT no poder. A explicação faz parte da defesa do doleiro Alberto Youssef, que não só endossa a tese de que o dinheiro desviado da estatal foi usado pelo partido para sustentação da base aliada — o PP e o PMDB — como vai além: o esquema havia se sofisticado e migrado para a doação direta a campanhas e ao próprio partido.
— A apoteose da lavagem foi colocar o dinheiro de corrupção como doação legal a partidos e campanhas. O sistema funcionou para financiar grupos e partidos políticos e quando migrou para a doação legal a campanhas e partidos atingiu o núcleo da democracia, pois, quando alguns partidos passam a deter o domínio de uma grande verba, há um desequilíbrio no sistema eleitoral — afirma o advogado Antonio Figueiredo Basto.
Basto está finalizando a defesa final do doleiro Alberto Youssef. Vai pedir perdão judicial para seu cliente, que assinou acordo de delação premiada, onde ficou acertado que cumprirá no máximo de três a cinco anos de prisão, sendo condenado no máximo a 30 anos. Na avaliação do advogado, não se pode, desta vez, deixar que ocorra o mesmo que aconteceu no julgamento do mensalão, quando os políticos tiveram penas menores do que as impostas à iniciativa privada.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi condenado à pena de dez anos e dez meses de prisão e multa de R$ 676 mil. A ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello foi condenada a 16 anos e oito meses de prisão e a multa passou de R$ 1,5 milhão. Dirceu já está solto. Kátia segue presa.
Para o advogado, a defesa final vai ressaltar o que Youssef disse desde o início e foi acompanhado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa: os dois eram apenas peças numa engrenagem muito maior, que envolve os políticos.
— Essa situação foi coordenada e tramada a partir da própria Petrobras. Há claros e fortes indícios de participação dos políticos, que não vou nomear, pois isso deve ficar a cargo da investigação. Meu cliente não é líder de nada. Eles (os políticos) é que vão atrás e criam o sistema para o esquema de manutenção no poder. O esquema na maior estatal do país só pode funcionar com a anuência dos políticos. Isso era fato notório dentro da empresa — diz.
Basto afirma que Youssef foi cooptado pelo então deputado federal José Janene, do PP, para fazer o esquema, que foi montado dentro da Petrobras, uma vez que cada partido indicava um diretor e tinha seu feudo dentro da estatal. Para ele, é essencial pontuar e delimitar responsabilidades, pois o próprio Youssef já deixou claro ao depor à Justiça Federal do Paraná que o esquema vinha "de cima para baixo" e foi apontado como "líder da organização criminosa"
Para o advogado, todos os que participaram do esquema sabiam exatamente o que estavam fazendo. Para ele, porém, não houve achaque, como dizem os empreiteiros, mas pedidos e pressão.
A "pressão" foi relatada pelo empresário Augusto Mendonça Neto, dono da Setal, que deu origem ao Grupo Toyo Setal, em seu depoimento de delação premiada. Ele contou ter sido chamado várias vezes no escritório do então deputado José Janene para reuniões onde ocorreram intimidações e ameaças.
Disse que numa das oportunidades foi deixado numa sala de reunião, enquanto Janene participava de outra reunião numa sala ao lado. "De repente, abre-se a porta da outra sala, e Janene sai agredindo um outro cara de lá de dentro e botando o cara para fora do escritório", relata o depoimento.
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