• Parece ser o cenário ideal para um tertius conseguir romper a disputa entre PT e PSDB
- O Estado de S. Paulo
A rejeição define a política brasileira: 2 em cada 3 eleitores não votariam de jeito nenhum em metade ou mais dos seis virtuais candidatos a presidente testados pelo Ibope. É fácil cair na armadilha de atribuir tanta ojeriza à polarização PT X anti-PT. Até a crise política e econômica explodir, quem rejeitava Lula apreciava Aécio Neves e vice-versa. Não mais. Os ódios cresceram e se mesclaram. São múltiplos, difusos - meio confusos até.
Lula enfrenta hoje 55% de eleitores que dizem não votar nele de jeito nenhum, a maior taxa entre os políticos pesquisados pelo Ibope. Mas seus potenciais adversários não estão lá muito melhor. Todos oscilam entre 47% e 54% de rejeição. Como resultado, há muito ódio compartilhado. Só 6% rejeitam exclusivamente o petista. Os outros 49% dividem sua repulsa entre Lula e pelo menos mais um dos outros presidenciáveis.
Não chega a ser boa notícia para Lula que metade do eleitorado declare rejeição coletiva. Mas mostra que a pesquisa Ibope vai muito além da bicromia. Quem reduz seus resultados a preto ou branco, vermelho ou azul - apenas para agradar a um dos lados - não capta todas as particularidades do atual quadro político. Para entender o que vai nos corações e mentes dos eleitores nestes tempos odientos é preciso examinar seus fígados e analisar cada porção de bile. Alguns diagnósticos surpreendem.
Nada menos do que 24% dos eleitores rejeitam Lula e Aécio (e, eventualmente, mais alguém). A sobreposição entre Lula e os outros presidenciáveis tucanos é ainda maior. Chega a 29% dos eleitores no caso de José Serra e a 30% no de Geraldo Alckmin. Isso quer dizer que entre um quarto e um terço dos brasileiros não votaria de jeito nenhum nem no petista nem nos tucanos.
A rejeição a Lula é facilmente explicável. Quem não ficou indignado com as sucessivas evidências de corrupção envolvendo o PT indignou-se com a perda de poder de compra, a dificuldade de arrumar emprego e os aumentos sucessivos de preços e tarifas.
O crescimento do grupo que descarta votar nos candidatos do PSDB tem outra matriz. A rejeição aos tucanos demonstra que uma parte cada vez maior do eleitorado duvida da eficiência do sistema político. Não crê que ele vá produzir uma solução para os problemas que se perpetuam. E o PSDB tem sido parte fundamental desse sistema desde 1988. É mais do mesmo.
À primeira vista, parece ser o cenário ideal para um tertius finalmente conseguir romper a disputa entre PT e PSDB que se repete desde a eleição presidencial de 1994. Nos pleitos anteriores, ninguém representou melhor o papel de terceira via do que Marina Silva. Foi quem chegou mais perto de desbancar o PSDB como adversário do candidato petista no 2.º turno.
Desde então, Marina saiu de cena e evitou participar do tiroteio entre o PSDB de Aécio, o governo Dilma e o PT. Mas a pesquisa Ibope revela que pouco importa o papel dos atores na crise, se protagonista ou figurante. Todos acabaram alvejados.
Metade dos eleitores diz que não votaria em Marina de jeito nenhum. É muito mais do que a sua taxa de rejeição no final do 1.º turno de 2014. Desses 50%, mais da metade, 28%, também descarta votar em Lula. Nesse aspecto, a fundadora da Rede - partido que, ao menos no discurso, pretende renovar a política - se equivale aos tucanos. Dividem as mesmas taxas de rejeição. Tanto no geral, quanto entre quem não quer mais saber do PT.
Se Lula tem o dobro de eleitores que o rejeitam do que os que dizem que votariam nele com certeza, se os tucanos também são rejeitados por boa parte desses anti-petistas, se Marina deixou de ser o símbolo da renovação da política brasileira, quem será a novidade? O nome ainda não apareceu, mas as condições para o seu surgimento estão dadas. É questão de tempo e oportunidade.
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