- O Estado de S. Paulo
Ontem o País não deixou dúvida: a paciência dos brasileiros se esgotou. Se Luiz Inácio da Silva e o PT ainda achavam que o problema deles era a presidente Dilma Rousseff, viram e ouviram que as barbas devem ser postas de molho e os cavalos retirados da chuva, antes de acreditar que críticas à figura dela, denúncias de golpe e queixas de perseguição política possam sensibilizar a opinião pública.
Pela primeira vez, os protestos tiveram foco bem definido e incluíram de maneira contundente Lula e o PT. Os manifestantes pediram o afastamento da presidente, mas gritaram “fora PT” em uníssono Brasil afora e pediram a prisão do ex-presidente. As principais palavras de ordem, entre as quais se incluíram apoio ao juiz Sérgio Moro e às investigações da Lava Jato, foram ditas de maneira uniforme, como se houvesse um comando central das manifestações. Considerando que não havia, o que deu o tom foi o genuíno desejo da população.
Desejo este por ora ainda concentrado no “não”. Não querem o governo atual, não querem a paralisação das investigações, não querem se preocupar com a administração do vácuo decorrente de uma interrupção do mandato de Dilma e também não querem que os políticos tentem capitalizar os protestos, conforme ficou demonstrado nas vaias aos poucos que se arriscaram a aparecer em público ontem. Isso não quer dizer necessariamente que a população rejeite todos eles, mas significa que esta agora não é a hora deles. Ao menos em relação às ruas.
O “day after”, se houver, é como diz a expressão, uma questão para depois. Aos políticos cabe atuar no campo que lhes concerne: o Congresso na condução do processo de impeachment, caso a abertura venha a ser aprovada pela Câmara, e na articulação de eventual governo de transição. Levando em conta que boa parte das reclamações contra o PT alcança também outros partidos, cujas práticas não têm sido as mais ortodoxas.
O fato de não emergir liderança política alguma desses movimentos não significa grande coisa. Na época do impeachment de Fernando Collor os políticos não conduziram as ruas. Foram por elas conduzidos. Nem o PT, que na época simbolizava o bom combate, conseguiu transformar seu empenho na derrubada de Collor em apoio popular. A eleição seguinte, em 1994, foi vencida por um plano econômico posto em prática no governo de transição.
O domingo 13 de março não derruba nem sustenta o governo, mas o fragiliza de modo categórico, invalida de vez o discurso de que impeachment é golpe e desrespeito à vontade popular, dá respaldo massivo e inequívoco às ações da polícia, da Justiça e do Ministério Público e demonstra que Lula, ao contrário do que imagina, não é capaz de “incendiar o País”. Se insistir na tese, corre o risco de unificar o Brasil contra ele, o PT e demais companhias.
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