segunda-feira, 14 de março de 2016

Tudo dependia das ruas? Pois é... - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O Brasil é uma Venezuela? Não! Está dividido ao meio? Não! O histórico domingo, 13 de março de 2016, mostrou ao mundo e a quem interessar possa que a maioria dos brasileiros é verde e amarelo, quer paz nas ruas, ética na política e... o fim do governo Dilma Rousseff. Os gritos e faixas foram claros: “Somos Moro” e “fora Dilma, fora Lula, fora PT!”.

As manifestações foram um recorde em São Paulo e um retumbante sucesso no Rio, em Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife, Aracaju, Goiânia... Sem falar nas cidades do interior, particularmente em São Paulo, e do exterior, como Lisboa e Nova York.

Lula e o PT estavam loucos (em duplo sentido) para convocar sua tropa e confrontar os manifestantes. O recuo foi não só prudente para todos como conveniente para eles próprios. Evitou cenas de vandalismo e os poupou de comparações. Não há dúvida sobre com quem, e com que cores, está a grande maioria. Se houver, vai ser dirimida no dia 18, nas manifestações pró Lula, Dilma e PT. Se é que vão insistir nisso.

O povo cansou. Cansou do mensalão, da devastação da Petrobrás, do roubo de milhões de reais e dólares, da arrogância, das mentiras, das mistificações e do lamentável estado da economia, sem perspectiva de melhorar.

A hipótese de Dilma “se reinventar” é pura retórica, já que ela, aliás, nem sequer se mostra capaz de articular uma frase inteira com sujeito, verbo, predicado... e nexo.

Sem instrumental político e pessoal, está agarrada ao PT, que é contra a política econômica, ao PMDB, que pula do barco, e a um Lula que faz água por todo lado. Se Dilma afunda e o mar não está para peixe, as ruas estão para os milhares, ou milhões, de insatisfeitos.

O recado está dado. É preciso agora que o mundo político, rechaçado ou ignorado solenemente neste domingo, faça a sua parte. E a sua parte é o que prevê a Constituição: se Dilma efetivamente não renunciar, como já avisou, há o impeachment pelo Congresso e a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Neste segundo caso, podemos chegar a uma solução que remete as manifestações de deste domingo a 1984: Diretas já!

Mas, antes, é preciso tirar o bode da sala. Nem o impeachment nem a cassação serão já, mas, se houver cassação, o presidente da Câmara, hoje Eduardo Cunha, será presidente do Brasil por 90 dias, até a eleição popular. Nem o Capeta poderia imaginar uma sinuca mais macabra.

O mundo político e o mundo das ruas se encontram num ponto: os dois lados querem a saída da Dilma, mas ninguém sabe como e o que vem depois. Só não dá para esquecer o que todos diziam até o sábado: que “tudo ia depender das manifestações”. Pois é... Se dependia delas, já está decidido.

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