• Protesto pacífico reuniu 3,6 milhões de pessoas em 326 cidades de todos os estados e no Distrito Federal
Insatisfação da população aumenta a pressão sobre o governo, no início de uma semana decisiva — o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara na quinta-feira. Aliados da presidente admitem que situação se agrava
Na maior manifestação de sua História, o Brasil viu ontem 3,6 milhões de pessoas tomarem as ruas de 326 cidades de todos os estados e do Distrito Federal, para exigir a saída de Dilma Rousseff do cargo. A presidente terá uma semana decisiva para seu mandato: na quinta-feira, o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara dos Deputados. O ex-presidente Lula também foi alvo dos protestos, inspirados nas investigações sobre o tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, transformados em alegorias irreverentes em várias capitais. Manifestantes homenagearam em todos os atos o juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância pela Lava- Jato. Máscaras e camisetas lembravam o magistrado, que agradeceu se dizendo “tocado” pelo apoio à operação. Em nota, o Palácio do Planalto destacou o tom pacífico dos protestos. Líderes dos partidos aliados ao governo admitiram que o movimento histórico aumentará a pressão pelo impeachment de Dilma. Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015.
A voz que ecoa das ruas
• Na maior manifestação política do país, protestos contra o governo reúnem 3,6 milhões
- O Globo
- BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO- O Brasil viveu ontem a maior manifestação de sua História. No início de uma semana decisiva para o processo de impeachment, 3,6 milhões de pessoas foram às ruas, em ao menos 326 cidades de todos os estados do país, pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Lula, alvo da Operação Lava- Jato, se tornou também personagem- chave. Alegorias inspiradas no tríplex no Guarujá, no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e no pedalinho usado pela família de Lula no lago do sítio, foram levadas às ruas pelos manifestantes.
Os próximos dias serão decisivos. Na quartafeira, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar os recursos ao rito do impeachment e, na quintafeira, o processo voltará a andar na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, os olhares estão voltados para a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da 4 ª Vara Criminal de São Paulo, que tem em mãos um pedido de prisão contra o ex-presidente, acusado pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015, inclusive no Nordeste, que sempre concedeu vitórias expressivas a Lula e a Dilma, nas eleições. De verde e amarelo, os manifestantes usaram criatividade e bom humor para tratar dos temas que têm tomado conta do noticiário político recente. Pixulecos em referência a Lula, vendidos a R$ 10, esgotaram nas mãos dos ambulantes. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), investigados pela Lava- Jato, não foram esquecidos.
O juiz Sérgio Moro foi homenageado de norte a sul do país, com direito a máscaras e camisetas, num aval explícito à Operação Lava- Jato. À tarde, Moro soltou nota dizendo ter ficado “tocado” pelo apoio às investigações: “Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do Povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário”.
Líderes dos principais partidos da base aliada da presidente já admitiam, horas depois do protesto, que as manifestações terão forte impacto sobre o processo de afastamento. Embora Dilma e Lula fossem os alvos centrais das críticas, a insatisfação geral com a classe política ficou clara pelas vaias dirigidas aos principais líderes de oposição presentes em São Paulo e no Rio.
O senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, que travam uma disputa interna no PSDB pela candidatura presidencial do principal partido oposicionista em 2018, foram juntos à Avenida Paulista e acabaram sendo hostilizados por manifestantes que acompanhavam a chegada. O mesmo ocorreu com políticos que tentaram falar em microfones no Rio de Janeiro.
A presidente Dilma passou o dia no Palácio da Alvorada e lá se reuniu, no fim da tarde, com assessores e ministros do PT. No começo da noite, optou por divulgar uma nota protocolar assinada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Em dois parágrafos, a presidente exaltou a liberdade de manifestação, “própria das democracias”, e enfatizou que os protestos pacíficos demonstram “maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes”.
Em um gesto claro em direção à sua base social, Dilma havia divulgado mais cedo uma dura nota oficial condenando a pichação da sede da União Nacional dos Estudantes ( UNE), em São Paulo, no sábado, e a ação de policiais armados na sextafeira durante uma plenária em apoio a Lula.
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