Por Daniela Chiaretti – Valor Econômico
BELÉM - O filósofo José Arthur Giannotti, 86 anos, intelectual próximo ao PSDB e, sobretudo, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estava perplexo com a mensagem das manifestações pelo país. "Está acontecendo algo extraordinário. As manifestações são muito maiores do que se esperava. E mais além do 'Fora Dilma', 'Fora PT' e contra Lula, nota-se o apoio massivo ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava-Jato. Pedem a moralização da política brasileira."
"O foco é o PT, mas as manifestações pedem o fim da política corrompida", diz Giannotti. "É um pedido para que haja higienização da política brasileira e, neste sentido, é algo geral." Em seguida, questiona: "Será interessante ver como vai sair Marina Silva depois deste processo."
O professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) enxerga a presidente Dilma Rousseff em um abraço de afogado com o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT). "O governo, como está, não pode ficar. Dilma tem que se reinventar", diz. "Se Lula entrar, acredito que afundam os dois", arrisca.
"Não vejo perspectiva no que está acontecendo, ainda mais se o Lula virar ministro", segue. "Ele não conseguirá, na minha opinião, que Meirelles (Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central durante oito anos no governo Lula) seja o condutor da política econômica."
Há um ano, em entrevista ao Valor, Giannotti também não arriscava saídas à crise, embora dissesse acreditar nas instituições e que o impeachment favorecia o PT. "Hoje, pelo contrário, mudou completamente a situação. O PT sai derrotado de um impeachment. Ele se vinculou de tal forma à corrupção e à política neodesenvolvimentista que ninguém acredita nele. O PT precisa se reinventar, mesmo que Dilma continue no poder."
"Estive muito próximo no momento da criação do PT. Mas o partido passou por um processo de deterioração muito grande. Primeiro teve perda de substância dos sindicatos. Depois, se chafurdaram no poder e na corrupção. Parte da Igreja saiu do PT, e parte dos intelectuais tornou-se semi-petista. A universidade continua ligada a certas posições petistas, sem estar ligada à política efetiva do PT", analisa.
Ele também enxerga um PSDB "dividido, muito dividido" e não poupa as contradições dos tucanos. "O PSDB está estourado. O Alckmin [Geraldo Alckmin, governador de São Paulo] estourou o PSDB paulista. Não sabemos exatamente qual a posição dele, só que está jogando para ser candidato." Segue comentando os movimentos de outras duas lideranças, Aécio Neves e José Serra. "A parte ligada ao Aécio quer impeachment com nova eleição. A outra está ligada à tentativa de se juntar com o Temer [o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer] e fazer uma política de união."
"Vácuo de poder não existe e não vai haver. Ou a madame se reinventa e reconstrói alguma forma de poder, ou cai em seis meses", arrisca o filósofo. "Alguma solução vai ter que ter, para seguirmos até as próximas eleições. Com ela (a presidente Dilma) ou sem ela", diz Giannotti. "A tendência é sem ela."
Ele não vislumbra um governo de coalizão. "Coalizão, como?". Ao lançar farpas ao PT, diz que "este grupo se esqueceu que para distribuir riqueza tem que crescer, e como quiseram controlar ao máximo a função do crescimento, quando veio a crise, entramos na recessão."
Em sua visão, o PT e o governo "não querem mexer na Previdência, na indexação do salário, e assim por diante. Então, vamos para o buraco enquanto este pessoal não sair do governo." E depois? "Infelizmente vamos ter um governo de direita", diz ele.
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