Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - Diante das manifestações mais expressivas contra seu governo desde a reeleição, que levaram mais de três milhões de pessoas às ruas ontem, a presidente Dilma Rousseff tentará criar um fato político de peso nesta semana, numa tentativa de esboçar reação. A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um ministério, ainda é mais um desejo que uma realidade, e a resposta sai nos próximos dias. Auxiliares de Dilma defendem o diálogo com a oposição, inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E advertem que Dilma precisa se "reinventar", se não quiser sair antes do fim do mandato, e pela porta dos fundos do Planalto.
A avaliação é que a magnitude dos protestos apressa o desembarque dos aliados do governo, liderados pelo PMDB. O processo de impeachment deve ser retomado no fim da semana, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento do rito processual, o que ocorre na quarta-feira.
Dilma aposta, ainda, no apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta segurar o seu partido na base aliada e defende a implantação de um "semipresidencialismo" como alternativa ao impeachment. Renan disse ao Valorque nos próximos dias vai procurar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir essa saída para a crise. O ex-presidente chancelou essa alternativa em artigo publicado recentemente. "O PMDB tem responsabilidade institucional e compromisso com a democracia, seria um tiro no pé agravar a crise com movimentos bruscos e irresponsáveis", disse Renan sobre o PMDB romper com o governo.
Ministros devem se pronunciar hoje, depois da reunião da coordenação política, sobre a dimensão e a veemência dos protestos. Em nota divulgada ontem, Dilma ressaltou a "liberdade de manifestação", o "caráter pacífico" dos protestos e a capacidade do país de conviver com "opiniões divergentes".
Ontem, auxiliares de Dilma dividiam a preocupação diante do número expressivo de manifestantes com o alívio pela ausência de episódios de violência e de confronto. Dilma convocou ontem à noite uma ampla reunião ministerial para avaliar os protestos. Foram chamados os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo (Advocacia Geral da União), Wellington César (Justiça), Aloizio Mercadante (Educação), Aldo Rebelo (Defesa), além do assessor especial Giles Azevedo. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também participou, porque as críticas das ruas recaem também sobre a recessão econômica.
O fato político mais desejado no Planalto seria a posse de Lula no ministério, mas isso não está assegurado, nem são garantidos seus reflexos para aliviar a crise. Cogita-se, também, a convocação do Conselho da República, previsto na Constituição Federal, que a presidente pode acionar para se manifestar nas questões "relevantes para a estabilidade das instituições democráticas".
A previsão é que o ex-presidente Lula aterrisse em Brasília amanhã para nova reunião com Dilma. Além do foro privilegiado - que permitirá que o Supremo Tribunal Federal assuma a investigação contra ele na Lava-Jato -, a expectativa dos ministros petistas é de que Lula ajude a salvar o governo. Lula só deve responder depois que a juíza Maria Priscilla Ernandes despachar o pedido de prisão preventiva contra ele. Mas continua refratário à ideia. Seus aliados questionam se depois que milhões de brasileiros protestaram contra ele e contra Dilma, não seria tarde demais para essa solução.
Para a cúpula do PMDB, nem Lula como ministro resgata o governo da crise. "Nada muda se não mudar a economia", diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que também é um dos principais aliados do Planalto. "É preciso mudar as forças políticas", explica o primeiro vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).
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