O trabalho de desmonte do equilíbrio nas contas públicas foi extenso e meticuloso, uma obra compartilhada entre o presidente Lula, a partir do final do seu segundo mandato, e sua ministra da Casa Civil e sucessora, Dilma Rousseff, economista de formação, ex-guerrilheira, brizolista de coração. No primeiro mandato, Lula se curvara ao bom senso, e o que prometeu na campanha, em 2002, fez: manteve o “tripé” (câmbio flutuante, meta de inflação, gastos sob controle), instalado pelo antecessor FH, a partir de 1999. Colocou no Ministério da Fazenda o médico Antonio Palocci, ex-prefeito petista de Ribeiro Preto, um político hábil. Escalou no BC o tucano Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston mundial, e permitiu que o segundo escalão da área econômica fosse ocupado por competentes técnicos “neoliberais”.
Não poderia deixar de funcionar. O choque cambial que soltou as amarras da inflação já na campanha, devido ao temor da sociedade diante do risco Lula, foi contido no início do mandato por meio dos instrumentos clássicos (juros altos e gastos contidos), para gana da militância petista. A estabilização da economia, pelo receituário indicado, permitiu que o país aproveitasse minimamente um ciclo de crescimento mundial sincronizado, muito devido à expansão chinesa. Por isso, as commodities dispararam, o Brasil passou a ser credor do FMI e Lula, “o cara”. Sua popularidade foi às nuvens.
Mas como certas correntes ideológicas nada esquecem e nada aprendem, a crise mundial agravada em 2008/9 foi o pretexto que Lula e Dilma encontraram para jogar no lixo políticas “neoliberais” e começar a lançar as bases do “novo marco macroeconômico”, cujos resultados estão expostos nos gráficos acima.
Lula passou a faixa em 2011 ainda com alta popularidade e Dilma, com todo o poder nas mãos, tratou de aplicar tudo o que pensava sobre economia. Terminou sofrendo impeachment no início do segundo mandato, por ter infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, de que tanto desdenhava.
A receita de aumentar os gastos públicos, por meio de mais endividamento do Tesouro, para subsidiar investimentos, e dar estímulos tributários ao consumo, com as famílias já endividadas, foi um previsível fiasco. Apesar de todos os alertas de economistas de “direita” e da imprensa profissional. Por tudo isso, o Brasil mergulhou na mais funda recessão contabilizada nas estatísticas: aproximadamente 8% de queda do PIB em dois anos, causa de uma onda gigantesca de desemprego (14 milhões de pessoas). Para completar o enorme desastre, a visão populista com que o país foi tocado por 13 anos engessou ainda mais o Orçamento, impediu que a Previdência fosse reformada, e hoje esses gastos respondem por mais da metade das despesas primárias (sem os juros). E crescem de forma autônoma. Até a Previdência ser reformada e mecanismos de indexação serem desligados.
Daí ser longa e árdua a reconstrução do país. O peso do déficit público no PIB se aproxima dos 80%, e há projeções de 90% para breve. Esta reforma, portanto, é essencial para a recuperação do país. Esta radiografia das contas públicas estará presente nos debates da campanha do ano que vem. Que seja entendida como um alerta do que o voluntarismo nacional-populista fez com os brasileiros.
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