- O Globo
Qual é a solução que estamos todos a ansiar? A volta de Dom Sebastião nas eleições
Dom Sebastião, rei de Portugal, foi sequestrado ou morto na batalha de Alcácer-Quibir em 1578, no norte da África. Séculos depois, ainda havia quem depositasse esperanças em sua volta para redimir Portugal.
Mensalão, Lava-Jato e a incontornável constatação de que o Brasil não é uma sociedade emergente rumo ao desenvolvimento, e sim um capitalismo de Estado, selvagem e de compadrio, com uma desigualdade intolerável e instituições porosas e permeadas pelo crime.
Tudo isso movido pelo patrimonialismo, personalismo e prevalência das lealdades de grupo sobre as leis que deveriam ser iguais para todos, como mestre DaMatta insistentemente explica nesta página de jornal que orgulhosamente compartilho periodicamente.
E qual é a solução que estamos todos a ansiar? A volta de Dom Sebastião nas eleições de 2018.
Para uns, ele é o Lula. Monarcas e líderes religiosos têm, afinal, o poder de se autoperdoar. Para outros, é o Bolsonaro, patética afirmação da carência das palmadas de um pai ignorante. Para outros, qualquer coisa entre esses extremos, mas ainda assim vestido com o manto sebastianista (de acordo com o figurino de mais agrado do cliente).
O diálogo e o debate verdadeiros estão interditos. De um lado, a narrativa de um golpe de Estado feito pelo Parlamento e confirmado como dentro das leis pela corte suprema assegura antolhos defensivos ao exército vermelho corporativo, mas bloqueia qualquer reflexão mais elaborada. De outro lado, a emergência do reequilíbrio das contas fiscais e a de sinalizar a inversão da trajetória insolvente da dívida pública parecem justificar a interdição do debate da triste realidade institucional do país. Dão a impressão de justificar também excluir da discussão o problema de prazo mais longo, mas ainda maior, de que já estamos com os dois pés no brejo da armadilha da renda média — e isso numa sociedade com desigualdade aviltante.
Só que, como todos sabemos, Dom Sebastião não virá. O que poderia vir seria subir um ou dois degraus na evolução da qualidade de nossa democracia. Mudar o modelo de governança. Sem isso, com Lava-Jato ou sem, em pouco tempo tudo será como antes, ainda que, felizmente, não no quartel de Abrantes.
Para isso de nada servem sebastianismos. O que poderia ajudar seria um debate político mais profundo e cujas principais ideias fossem bem compreendidas pela população. Que conjugação de forças poderia avançar um pouco nessa caminhada? Muito curiosamente, as forças cujas antenas estão sintonizadas com o século XXI, com uma sociedade aberta e global, sejam elas de centro, esquerda ou direita.
E quem se opõe vigorosamente são as forças da falsa esquerda, corporativista, anacrônica e territorialista, e as forças da elite pantanosa e com ojeriza à competição, que preferem tudo como sempre foi no Brasil.
A esperança não precisa vencer o medo. A história não é nós contra eles. A esperança precisa vencer o vazio de ideias.
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Sérgio Besserman Vianna é presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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