- Folha de S. Paulo
Prestígio presidencial cai, ansiedade popular sobe, aparecem mais populismos
Pagar um “13º” para quem recebe o Bolsa Família talvez conquiste a boa vontade de brasileiros pobres que não simpatizam com JairBolsonaro. O presidente deve anunciar oficialmente a medida nesta quinta-feira (11).
Na prática, neste primeiro ano vai se tratar de um reajuste real (acima da inflação) de 3,4% (o aumento de 8,3% no benefício anual, descontada a inflação acumulada desde o reajuste mais recente, de julho do ano passado).
Quanto ao populismo raiz, o presidente continua sua batalha contra as multas, as que toma ou as de trânsito.
Aumentar de 20 para 40 o número de pontos de multa que suspendem o direito de dirigir pode conquistar motoristas para quem a fiscalização do trânsito é uma intervenção estatista no direito de barbarizar nas ruas e rodovias. Extinguir milhares de radares de velocidade nas estradas federais vai na mesma linha.
Continuar a guerra ideológica na educação, a cruzada moral nos costumes e ouriçar o bolsonarismo nas redes insociáveis parece, além de um programa de governo, outra tentativa de impedir ao menos que a aprovação do presidente vá abaixo dos atuais 30%, por aí.
A nomeação do novo comandante do Ministério da Educação é um sinal de força da “ala antiestablishment do governo”, como se autodenomina o núcleo puro, “ideológico”, do bolsonarismo.
Um agrado para as pessoas do Bolsa Família e para motoristas indisciplinados e chacrinha ideológica pode parecer exemplos ao léu ou enumeração caótica do que faz o governo. Mas a preocupação com particularidades disparatadas é puro Jair Bolsonaro, que se ocupa da ilustração da carteira de vacinas, da lombada eletrônica e de dúzias de bananas importadas, quando não está elogiando a morte.
Em suma, as pinimbas da vida cotidiana são a arte de governo do presidente. A cruzada moralista é a sua filosofia (“ideologia de gênero”, politicamente correto” e outras perversões de “comunistas”, que comandam inclusive bancos e meios de comunicação, segundo o ministro da Educação).
Claro que parte do governo toca políticas públicas de interesse geral: concessões de infraestrutura, política agrícola ou mudanças na Previdência, por exemplo, embora o próprio presidente não tenha noção de muitos desses assuntos e “preferiria não fazer a reforma” previdenciária, como costuma dizer.
Essa estratégia bolsonarista vai segurar a peteca do governo? Um aumento para o Bolsa Família vai compensar os efeitos do eventual fim do reajuste real do salário mínimo e do abono salarial? Da reforma da Previdência? Antes mesmo da implementação dessas medidas, o prestígio de Bolsonaro levou um tombo incomum para presidentes estreantes.
Pesquisa Datafolha também mostra um salto no nível de inquietação político-econômica. O instituto costuma fazer perguntas sobre inflação e desemprego (vão subir, cair?).
As respostas não costumam estar associadas exatamente a expectativas econômicas. Mesmo com preços comportados, o povo fica alarmado com sinais de confusão política, que sabiamente associa a dificuldades no governo e a um risco maior de problemas na economia.
Pois bem. Depois da lufada típica de otimismo do pós-eleição, os temores quanto a inflação e emprego deram saltos enormes. Outros índices de confiança econômica também caíram.
A economia ficou estagnada no primeiro trimestre e em 2019 pode crescer pouco mais do que o quase nada de 2018 e 2017.
Assim, o governo vai precisar de muito diversionismo.
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