- ISTOÉ, 10/4/2019, nº 2571
As liberdades, a imprensa, o Congresso e o Judiciário são os novos judeus. Devem ser exterminados, pregam os extremistas instalados no governo
Os primeiros cem dias da administração Jair Bolsonaro foram marcados pelos confrontos sucessivos com o Legislativo, a imprensa e os valores democráticos consubstanciados na Constituição de 1988. Não há na história brasileira, desde a redemocratização, nenhum governo com esta característica — triste característica. A busca do conflito substituiu o diálogo como ação. O governo dá a impressão que não necessita de nenhum apoio para aprovar as reformas — especialmente a da Previdência — e nem para governar.
Afinal, acredita-se que há um plano de governo — até hoje desconhecido de todos — e que o compromisso com todos os setores da sociedade vai possibilitar a sua implantação. Contudo, assistimos a uma virulência verbal que desgasta as instituições e impede a construção de pontes de entendimento entre as diferentes correntes políticas. É evidente que há um desejo consciente de buscar construir um ambiente de tensão, próximo ao caos, para daí obter algum dividendo político. Não é o pensamento dominante no governo — basta observar as ações responsáveis nos ministérios da Economia e da Justiça, além da atuação apaziguadora e competente dos militares.
Mas um núcleo nefasto entranhado no Palácio do Planalto e com ramificações nos ministérios da Educação e das Relações Exteriores, especialmente, aposta na crise. Quer a crise. Acha que desta forma abre caminho para seu projeto de poder. Projeto criminoso nos moldes do petismo.
Desqualificando nossas tradições, colocando em risco a segurança nacional e adotando como prática a utilização de uma ideologia exótica a serviço de interesses alienígenas. São os fanáticos do outro extremo político. Buscam a todo custo inimigos reais e imaginários. Agem como os nazistas. As liberdades democráticas, a imprensa, o Congresso e o Judiciário se transformam nos novos judeus. E devem ser exterminados para o que planejam: a edificação do admirável mundo novo.
A democracia está em perigo! Não é nenhum exagero. Os extremistas devem ser contidos. O embate ideológico tem de ser travado com urgência. É necessário demonstrar àqueles que foram iludidos na boa-fé que não se constrói nenhum país tendo como alicerce a intolerância. Menos ainda tendo como guru (ridícula esta expressão em uso nos tristes tempos que vivemos) o Jim Jones da Virgínia. Ainda é tempo de enfrentarmos e vencermos o fanatismo. Até o governo poderá encontrar um rumo distante desses extremistas.
*Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)
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