- Folha de S. Paulo
Motivo para desequilíbrio não é um complô, mas uma razão bem mais trivial
É verdade que o pensamento de esquerda predomina nas universidades. Isso não é exclusividade do Brasil, mas uma tendência geral no Ocidente.
Nos EUA, onde existe medida para quase tudo, a proporção dos professores universitários (todas as áreas) que se declaram liberais ou de extrema esquerda em relação aos que se dizem conservadores ou de extrema direita atingiu o pico de cinco para um em 2011. Durante a maior parte do século 20, a taxa oscilou entre dois e três para um.
O motivo para o desequilíbrio não é um complô do globalismo gramsciano, mas uma razão bem mais trivial: um dos traços de personalidade mais fortemente correlacionados à esquerda, a abertura ao novo, é também uma característica que leva pessoas a aprofundar-se nos estudos e a procurar a carreira acadêmica.
De modo análogo, encontramos mais direitistas nos quartéis e nas polícias, porque esse grupo tende a pontuar mais alto na escala de conscienciosidade, a preferência por previsibilidade e por ações planejadas.
E a desproporção é um problema? Depende do tamanho dela. De acordo com Greg Lukianoff e Jonathan Haidt, autores do excelente “The Coddling of The American Mind”, do qual eu tirei a maior parte das informações desta coluna, não é necessário estabelecer cotas de professores conservadores, mas é importante que haja diversidade ideológica suficiente para evitar a instalação do pensamento único.
A dupla acredita que uma “ratio” de dois ou três professores de esquerda para um de direita basta para garantir a liberdade acadêmica e o que chama de desconfirmação institucionalizada, isto é, assegurar que uma corrente não se encastele em posições-chave e passe a bloquear contratações e publicações de pesquisadores que pensem de outra forma.
As áreas de estudo em que a homogeneidade se enquista acabam mesmo produzindo material que se parece muito mais com religião do que com ciência.
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