As
manchetes dos jornais de hoje enfatizam a taxa média de 13,5% de desocupação em
2020, a maior desde 2012. Esse número é péssimo, claro, mas não conta toda a
história. A desocupação média anual esconde os três períodos distintos do ano e
induz o público menos informado a conclusões exageradas.
No primeiro período, janeiro e fevereiro, a ocupação formal estava crescendo bastante, induzindo até alguma redução na informalidade. O ano começava bem. A partir de março, porém, a pandemia provocou um estrago enorme, destruindo milhões de ocupações. Atingiu severamente, no primeiro momento, os trabalhadores informais, que ficaram sem clientes e foram para casa, obviamente sem aviso prévio, sem FGTS, sem seguro-desemprego. Em seguida, os formais também tiveram suas perdas, que não foram pequenas. O estrago só não foi maior porque o governo acudiu com as duas políticas conhecidas: as medidas para a manutenção de empregos e o benefício emergencial, que transferiu renda para os 40% dos domicílios brasileiros de menor renda. A onda destrutiva durou até agosto, quando ocorreu nova reversão, que devolveu o sinal positivo à série. Veio uma recuperação rápida e vigorosa, que surpreendeu a todos e perdurou até o fim do ano.
O
sobe e desce de 2020 pode ser resumido com os seguintes números: de
dezembro/2019 a setembro/2020, tínhamos perdido 8,4 milhões de ocupações, mas,
no quarto trimestre, criamos 3,7 milhões. Ou seja, em um trimestre, recuperamos
44% das perdas. O movimento vigoroso de recriação de postos de trabalho fica escondido
quando se considera apenas a média anual da desocupação. Afinal, fechamos o ano
de 2020 criando mais de 1,2 milhão de postos de trabalho por mês.
Não é tudo o que precisamos. Mas, também, reconheçamos, não é pouco. O ano foi ruim, mas poderia ter sido pior.
*Professor sênior da FEA/USP e coordenador do projeto Salariômetro da FIPE
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