Daniela
Amorim / Gregory Prudenciano / O Estado de S. Paulo
A taxa média anual de desemprego saltou de 11,9% em 2019 para 13,5% em 2020. Os trabalhadores mais afetados foram os dos setores de comércio, serviços domésticos e alimentação.
Meses
depois do choque inicial provocado na economia pela pandemia de covid-19, o
mercado de trabalho permanece como um grande desafio para a recuperação da
atividade econômica em 2021. Houve ligeira melhora na reta final de 2020, em
linha com a tradicional geração de vagas temporárias para as festas de fim de
ano, mas ainda insuficiente para absorver toda a população em busca de renda e
oportunidade. A taxa de desemprego média anual saltou de 11,9% em 2019 para um
ápice de 13,5% em 2020.
Os maiores baques foram em comércio (-1,702 milhão de vagas, em média), serviços domésticos (-1,198 milhão de trabalhadores) e alojamento e alimentação (-1,172 milhão). Todos os três setores bateram recordes de demissões. A indústria também demitiu em massa, alcançando quase um milhão de vagas extintas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada desde 2012 pelo IBGE.
A
taxa de desemprego encerrou o quarto trimestre aos 13,9%, pior resultado para o
período desde o início da série histórica. Em relação à mesma época do ano
anterior, foram perdidos 8,4 milhões de postos de trabalho. O País tem quase 14
milhões de desempregados. Se considerados todos os subutilizados, que incluem
os desalentados e subempregados, está faltando trabalho para mais de 32 milhões
de brasileiros.
Houve
melhora, porém, ante a taxa de desemprego de 14,1% registrada no trimestre
encerrado em novembro.
“A
taxa divulgada hoje (ontem) é para ser celebrada diante dos números anteriores,
mas o cenário ainda é complicado. Devemos ter uma recuperação extremamente
lenta no primeiro semestre deste ano e no segundo semestre ainda estaremos às
voltas com o processo de vacinação e o presidente (Jair Bolsonaro) totalmente
focado na eleição de 2022”, projeta Sergio Vale, economista-chefe da
consultoria MB Associados.
“Para
o início deste ano, a expectativa é de crescimento ainda moderado do ritmo e da
qualidade da retomada do mercado de trabalho. Os limites estão associados à
recente renovação das medidas de isolamento social, ao lento início da
vacinação, e ao fim das políticas de incentivo fiscal e monetário às famílias e
empresas. Como o mercado de trabalho deve ser insuficiente para absorver os
atuais inativos, deve haver aumento da taxa de desocupados”, diz Lucas Assis,
analista da Tendências Consultoria Integrada.
A
recuperação do mercado de trabalho demandará tempo e dependerá da evolução da
pandemia do novo coronavírus, avalia Adriana Beringuy, analista da Coordenação
de Trabalho e Rendimento do IBGE.
A
crise afetou de forma muito mais excessiva o mercado de trabalho informal,
justificou Cimar Azeredo, diretor adjunto de Pesquisas do IBGE. O pesquisador
lembra que houve redução importante no total de vagas com carteira assinada no
setor privado, mas os primeiros trabalhadores a ficarem sem ocupação foram os
que atuavam na informalidade, prejudicados pela pandemia. “Essa crise é uma
tempestade, que acaba colocando para fora (do mercado de trabalho), ao contrário
das outras crises, a informalidade. Agora estamos vendo o retorno da
informalidade com reabertura de praia, das ruas.”
Efeito
dominó. Luciana Luz, de 45 anos, trabalhava como babá há sete meses quando a
OMS declarou a pandemia de covid-19, em março. No mês seguinte, os pais da
criança, que trabalhavam fora de casa, adotaram o home office e precisaram
fazer ajustes no orçamento. “Com isso, disseram que não podiam mais me pagar e
fui dispensada.” Desde então, Luciana tem feito “bicos” como passadeira e
faxineira para a irmã.
A
empregada doméstica Dayana Pascoal, de 37 anos, perdeu o emprego há quase dois
meses. Ela trabalhava na casa de um empresário, dono de restaurantes que
fecharam durante a pandemia. “Ele não conseguiu reabrir porque os restaurantes
tinham como clientela os funcionários de firmas e escritórios, que agora estão
trabalhando em casa.”
O diretor do IBGE lembra que, passado o pior momento da crise, a recomposição do emprego perdido costuma se iniciar pelos postos informais, mas depois também há resgate do trabalho com carteira assinada.
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