Sempre
brinco que o jeito mais fácil de salvar vidas é baixar um decreto reduzindo a
velocidade máxima permitida para veículos. Reportagem da Folha corroborou meu
chiste, mostrando que após uma década de reduções, os óbitos em acidentes caíram
44% na cidade de São Paulo. É claro que a diminuição da velocidade não foi
a única medida adotada, mas é uma das variáveis-chaves, a julgar pela
literatura internacional.
Outras fórmulas eficazes para evitar mortes no atacado, como o saneamento básico, demoram a apresentar resultados e envolvem custos altos, mas, no caso da velocidade, o efeito é imediato e não gera despesa. Considerando as multas, pode até ser lucrativa para o poder público.
Assim,
num mundo racional, todo novo prefeito deveria baixar mais a velocidade máxima
na cidade, de modo a poder dizer, na campanha para a reeleição, que salvou x
vidas no trânsito. Nossa preocupação deveria ser com o risco cumulativo, que
nos levaria ao imobilismo.
O
que vemos no mundo real, porém, é que autoridades têm enormes dificuldades para
fazer o óbvio. Em São Paulo, João Doria, que hoje proclama seguir a ciência,
fez campanha à prefeitura (2016) prometendo aumentar a velocidade nas
marginais.
Mais
recentemente, o presidente Jair Bolsonaro mandou tirar os radares de rodovias
federais e bancou um pacote de leis que promove a irresponsabilidade dos
motoristas. O que está acontecendo?
Minha
hipótese é que, da mesma forma que o público não resiste ao imediatismo
econômico, não consegue contrapor-se ao populismo viário. O motivo é
matemático. Na esmagadora maioria dos deslocamentos que as pessoas fazem acima
da velocidade permitida, nada de grave acontece. É só numa pequena fração deles
que ocorre um óbito ou acidente grave. Com isso, o perigo da velocidade passa
ao largo de nossas consciências. O conceito de vida estatística poupada tem
baixíssimo apelo emocional.
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