- André
Shalders Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA
- Sem acordo com partidos e sob críticas do STF, o presidente da Câmara, Arthur
Lira (Progressistas-al), adiou a votação da Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) que amplia a imunidade parlamentar. Uma comissão especial será criada
para analisar o texto. A proposta limita situações em que parlamentares podem
ser punidos.
Em derrota sofrida no plenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistasal), adiou ontem a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade parlamentar. Sem acordo com os partidos, Lira desistiu de votar a proposta às pressas e anunciou a criação de uma comissão especial para analisar o texto. A medida ficou conhecida como “PEC da Blindagem” porque limita as situações em que parlamentares podem ser presos, além de proibir o afastamento do mandato por ordem judicial.
Diante
da pressão das redes sociais, de críticas do Supremo Tribunal Federal e até
mesmo do racha no próprio Centrão, Lira atendeu a pedidos de deputados e disse
que a PEC passará antes pelo crivo de uma comissão especial. Foi o primeiro
revés sofrido por ele desde que venceu a eleição para o comando da Câmara, no
último dia 1.º.
A
PEC chegou ao plenário na esteira da prisão do deputado Daniel Silveira
(PSL-RJ), que publicou um vídeo fazendo ofensas a integrantes do Supremo e
apologia do Ato Institucional n.º 5, o mais violento da ditadura militar. A
prisão foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no dia 16,
referendada no plenário da Corte e confirmada pela Câmara.
O
cronograma estabelecido por Lira após o revés diz que os partidos devem indicar
nomes para o colegiado até a próxima segunda-feira, mas não há definição sobre
quando o grupo começará a trabalhar. Além disso, o lockdown estabelecido no
Distrito Federal, para conter a contaminação por covid-19, deve ter novo
impacto nas atividades do Congresso.
“Esta
Casa de novo hoje (ontem) não consegue consensuar a alteração de um artigo. Nós
não conseguimos nos entender. E não será atropelando o regimento que o
faremos”, disse Lira, ao encerrar a sessão.
O
artigo citado pelo presidente da Câmara é o 53 da Constituição, segundo o qual
deputados e senadores são invioláveis, “civil e penalmente”, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos. A Carta diz, ainda, que os parlamentares serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
A
principal polêmica da proposta apresentada pela relatora da PEC, deputada
Margarete Coelho (Progressistas-pi), foi sobre a possibilidade de processos
contra parlamentares por crimes contra a honra, como calúnia, difamação e
injúria. Pelo texto, os congressistas só poderiam ser julgados por procedimento
incompatível com o decoro “exclusivamente” no Conselho de Ética da Câmara ou do
Senado, e não mais na Justiça.
Alguns
partidos, como o PT, discordaram e pediram a retirada do termo “exclusivamente”
do artigo, de forma que deputados e senadores pudessem continuar respondendo
também na
Justiça.
A relatora concordou com o pedido, mas, depois, foi a vez do PSL – sigla que
até 2019 abrigou o presidente Jair Bolsonaro – ficar contra a proposta.
Debate.
Outro ponto de controvérsia foi a definição de quais crimes poderiam resultar
na prisão de deputados e senadores. O PT quis ampliar o rol de crimes
inafiançáveis e incluir entre eles aqueles que atentassem “contra a democracia
ou a existência dos poderes constituídos”. O PSL foi novamente contra. Além
disso, a bancada do PSD se mostrou dividida. “Se um parlamentar estiver com uma
mala de dólares desviados da sociedade não poderá ser preso em flagrante. Isso
é anticristão”, criticou Fábio Trad (PSD-MS).
O
deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse, por sua vez, que Daniel Silveira nem
mesmo seria preso se a PEC fosse aprovada daquela forma. “Essa proposta abre a
porta para, no futuro, outros deputados quererem guerrear contra o Supremo”,
afirmou Teixeira. “Esta PEC terá o nome de ‘PEC Daniel Silveira’. O que se
pretende aprovando esse texto é dizer que a prisão dele foi ilegal. Nós estamos
pensando na crise institucional maior que pode advir dessa votação”, emendou o
petista.
Lira
demonstrou irritação e disse ficar “muito triste” com os adjetivos com os quais
a PEC estava sendo rotulada. Além de se referir a ela como “blindagem”, a
oposição também a chamou de “PEC da Impunidade”. “Deveria ser da democracia”,
rebateu o presidente da Câmara.
A
proposta prevê que, no caso de prisão em flagrante, como foi a de Silveira, o
parlamentar seja encaminhado à Câmara ou Senado, permanecendo sob a custódia
“até o pronunciamento definitivo do plenário”. Nos bastidores, integrantes do
STF questionaram a viabilidade da medida.
Na
prática, as dificuldades para aprovação do texto cresceram depois que ele foi
aceito pelo plenário, na noite de quartafeira. Anteontem, a sessão se arrastou
por seis horas, mas, diante da resistência da oposição e até de aliados do
presidente da Câmara, a votação foi adiada.
Sem
acordo com o PT e o PSL, as duas maiores bancadas da Casa, a avaliação de
deputados do Centrão, ontem, foi a de que a proposta não teria o respaldo
necessário para ser aprovada em primeiro turno. Mais cedo, um requerimento para
tentar obstruir a votação foi derrotado com apenas 302 votos, seis a menos do
que os 308 necessários para aprovar a PEC.
Colaborou
Rafael Moraes Moura
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