A pandemia colocou
em evidência a insustentabilidade econômica, social e ambiental da sociedade
contemporânea, herdeira da revolução industrial e urbana do século XVIII, aos
olhos de hoje insustentável.
A partir dos anos
60, do século XX, coloca-se como nunca o imperativo de defesa e ampliação da
democracia como caminho de novas relações políticas, econômicas e sociais em
defesa da vida e da preservação do meio ambiente. A possibilidade desta
construção alternativa ao capitalismo e a própria experiência do socialismo
real, valorizando a democracia, continua nos desafiando neste século XXI, em
plena pandemia, desnudando as fragilidades dos nossos sistemas político,
econômico e social no Brasil e no mundo.
O confinamento social está nos proporcionando
uma necessária reflexão individual e coletiva da sociedade brasileira e de toda
a humanidade. Sob qual perspectiva nos colocamos durante a pandemia e a pós-pandemia?
O que temos a dizer como sociedade brasileira e mundial?
Neste contexto é
que devemos avaliar a recente reunião dos países mais desenvolvidos, o chamado
Grupo do 7 (G7), no último 11, na Inglaterra, e os impactos das deliberações e
declarações do G7 antes, durante e depois da reunião e os seus desdobramentos
no cenário político e econômico mundial.
O Grupo dos Sete (G7) é o grupo dos países mais industrializados do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Ainda com a representação da União Européia. Foi fundado em 1975 e faz reuniões anuais para discutir as questões urgentes do cenário internacional. Na agenda da sua última reunião predominaram as questões relacionadas a mudanças climáticas, ameaças à democracia, recuperação da economia mundial e a própria pandemia. Ainda como fato político importante destaque-se a iniciativa dos EUA e da União Européia de um possível realinhamento com a China e a Rússia, apesar de uma posição critica do G7 em relação a estes países.
A pandemia e seus impactos econômicos, sociais
e ambientais tomou conta da agenda da reunião. Antes do evento, houve uma
importante declaração dos ministros de finanças do G7 se comprometendo com o
aumento da cobrança de impostos das empresas multinacionais, nos países onde
funcionam, no valor de 15% a serem investidos em Programas Sustentáveis nos
próprios países onde funcionam essas empresas multinacionais.
A reaproximação com
a China e a Rússia, particularmente dos EUA, neste início de Governo Biden, foi
outro fato político a ser destacado dessa reunião. No caso concreto da Rússia,
o encontro em Genebra, posterior à reunião do G7, já teve desdobramentos positivos:
a volta à normalidade nas relações diplomáticas entre os dois países e das
respectivas embaixadas em Moscou e em Washington. As relações China e EUA
continuam e devem continuar conflitantes em razão das disputas em torno da
hegemonia econômica mundial. As discussões da última reunião do G7 vão
continuar a repercutir e pautar os cenários político, econômico e social nos
planos nacional e internacional.
A pandemia, já no
segundo ano, vem acelerando mudanças no mundo do trabalho e da cultura, em toda
a parte. A vida em home office já está proporcionando mudanças significativas
no cotidiano da humanidade. Muitas dessas novas relações vieram para ficar. O
isolamento social está nos fazendo pensar e agir de outra maneira, entendendo
melhor as nossas limitações e fragilidades individuais e coletivas da sociedade
e do mundo em que vivemos, nesse novo normal. Há urgentes demandas cotidianas
inadiáveis a favor da cooperação, da solidariedade, da luta pela igualdade,
liberdade e fraternidade e as nossas relações com a própria natureza – a casa
de toda a humanidade. A realidade grita a favor dos excluídos, nos agride com as
contradições econômicas e sociais da sociedade contemporânea, ampliadas desde o
início da pandemia.
Nesse contexto, o que o G7 tem a nos dizer sobre esta realidade?
Os desafios da
sustentabilidade
A política do
espetáculo construída nas redes sociais inauguram novas maneiras de ser e estar
na sociedade contemporânea. As fakes news pautam a vida política, econômica,
social e ambiental, no dia a dia dos meios de comunicação e do cotidiano das
pessoas, a nível mundial e nacional.
As sociedades
mundial e nacional estão desafiadas ao enfrentamento dos reais problemas cotidianos,
de superação da pandemia e da nossa difícil realidade social e econômica que
exclui a maioria da população nos seus espaços de trabalho e moradia das
conquistas econômicas e sociais modernas. O cotidiano nas ruas e nas redes
sociais apresenta a tragédia social de bilhões de pessoas em todo o planeta,
excluídas do direito ao trabalho, alimentação, moradia e saúde-saneamento,
educação e mobilidade urbana O futuro da sociedade e da democracia deve ser
trabalhado em uma perspectiva
sustentável modificando as relações políticas, econômicas e sociais nos planos
nacional e internacional, histórica e atualmente insustentáveis.
A tecelagem de uma
alternativa democrática às crises política, econômica e social, a nível internacional
e de cada sociedade nacional, é o desafio de trabalhar a unidade das forças
democráticas, dialogando com a cidadania, com o mundo do trabalho e da cultura no
caminho da sustentabilidade política, econômica e social a ser construída.
A pandemia desafia
a tudo e a todos. A própria vida. A
ciência, como nunca, é imprescindível, frente aos negacionismos e aos populismos
tanto de direita quanto de esquerda, que constroem suas realidades paralelas e se
retroalimentam. Há espaço para as amplas avenidas da democracia, no caminho de
novas relações políticas, econômicas e sociais nos planos nacional e internacional, com mudanças
substantivas nas organizações multilaterais a exemplo da ONU, FMI, Banco
Mundial, OIT, entre os blocos continentais e regionais já existentes envolvendo
países e organizações governamentais e não governamentais, inclusive em relação
ao funcionamento do próprio G7, democratizando as relações internacionais em
prol desta almejada sustentabilidade mundial.
Assim, as opções
entre a democracia e a barbárie continuam postas. A democracia venceu os
grandes embates no século XX. É um processo em construção, em vigilância e
defesa permanente. A questão democrática
se impõe como um valor para as sociedades nacionais e a nível mundial, nas
relações estabelecidas entre a própria sociedade e com a natureza.
A pandemia nos
impacta e abre caminhos alternativos à realidade atual. As condições materiais,
econômicas, sociais e a insustentabilidade da sociedade contemporânea estão na
berlinda e podem ser superadas. As sustentabilidades política, econômica e
social são processos em curso e em disputa, no dia a dia da sociedade, no
cotidiano de cada um de nós. As participações da cidadania e de toda a sociedade
são os fundamentos desta sustentabilidade almejada.
São desafios
históricos que continuam atuais.
Seremos capazes?
*Professor Doutor, da Oficina da Cátedra da UNESCO em Sustentabilidade da UFBA
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