Folha de S. Paulo
É preciso uma campanha para deter a
receptividade desse movimento na Câmara
Em reforço à mais urgente de suas metas
desordeiras, Jair Bolsonaro agrava a ameaça de que, se recusada a mudança, “um
lado” pode “não aceitar” e “criar uma
convulsão no Brasil”. Por isso ou por outro dos fatores já em curso,
o Brasil, de fato, vai se fazendo propenso a uma convulsão. É uma percepção
cada vez mais nítida entre os lúcidos experimentados. E cada vez mais
facilitada pelo colaboracionismo da omissão generalizada.
O esforço solitário do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, só ecoa por minutos. Seria o caso, no entanto, de uma campanha que detivesse a receptividade do voto impresso na Câmara, onde a fraude eleitoral tem velhos praticantes e novas tentações. Nada se move contra essa outra face, “política”, dos preparativos de Bolsonaro para suas alternativas antidemocráticas.
Não se justifica dúvida alguma de que
Bolsonaro tenha como objetivo uma situação de violência extrema. Já por sua
atração pela morte alheia, que também não comporta dúvida, como por tantos atos
que nem precisam recorrer ao genocídio
que o igualou à pandemia. “Precisamos eliminar uns 30 mil”, era a
mais convicta receita de Brasil na sua campanha. Ninguém se identifica e se
entrelaça com milicianos se não vê a eliminação humana, individual ou em massa,
com indiferença quando não com desejo.
A inércia que
assiste à incitação de Bolsonaro, feita já a liberação de armas,
autoriza preparativos assim: com a permissão de possuir 60 armas, lembra o
sociólogo Antônio Rangel Bandeira, “se dez milicianos se unirem, terão 600
armas”, capazes até de “derrubar helicóptero e perfurar blindado”. Em vez de
dez, imaginem-se centenas, milhares, que milicianos e semelhantes não faltam
pelo país afora. Dinheiro não falta.
Não seriam as polícias a defender a
população, sendo em grande parte integrantes ou aliadas da marginalidade
criminosa. O Exército,
por sua vez, até hoje não deu sinal de opor-se aos preparativos
de Bolsonaro, nem de contraposição ao poder paralelo das milícias.
O próprio ministro da Defesa, general Braga
Netto, quando interventor na Segurança do Rio não criou dificuldades reais para
os bandos e as milícias que os Bolsonaro conhecem bem. No atual cargo, depois
de comandar o bolsonarismo no Planalto, o general preocupa-se em reivindicar
uma montanha de bilhões “para assegurar a defesa do território nacional”. Mas o
território não está nem sob a mais tênue possibilidade de ameaça. A ameaça está
aqui dentro. E não é impróprio admitir que inclua parte dos subordinados ao
general-ministro.
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