Folha de S. Paulo
Quer democracia? Aguenta a juspornografia!
Nossos candidatos baixaram o nível até onde a porno-justiça goza
O JusPorn
Awards fecha esse bonito ano de volúpia magistocrática com
festa. Na juspornografia, não há nada que não possa ficar mais libidinoso. Se
você acredita que o STF, ao aplicar
a lei a criminosos bem-dotados, salvou a democracia, o JusPorn Awards te dá
entrada de camarote para a entrega do prêmio. Quer democracia? Aguenta a
juspornografia! O JusPorn firma esse pacto com seus premiados e pede respeito.
Nossos candidatos baixaram o nível até onde a
porno-justiça goza.
Na cerimônia ecumênica dos 50 anos do enforcamento de Vladimir Herzog por militares, a presidente do STM, ministra Maria Elizabeth Rocha, pediu perdão pelas omissões judiciais na ditadura. O ministro Carlos Amaral Oliveira, bacharel, mandou a ministra, mestre e doutora em direito, "estudar um pouco mais". E completou: "discordo do conteúdo, acho que tenho pleno direito a isso aí".
"Tenho pleno direito a isso aí" é o
postulado juspornográfico do ano. Na sua qualidade porno-doutrinária, foi quase
tão preciso quanto a confissão de alcova de Raimundo Nonato em campanha ao TJ
do Ceará ano passado: "princípio da dignidade da pessoa humana, mas
primeiro a dignidade remuneratória".
A aposentadoria de Luís Roberto Barroso
atiçou personagens que expandem competências no escurinho da porno-legalidade.
Discordam da competência presidencial de nomear ministro. Gilmar Mendes revelou
que "STF é jogo
para adultos", lugar para "pessoas corajosas e
preparadas". E anunciou o corajoso e preparado Rodrigo Pacheco como seu
candidato. Davi Alcolumbre, também de mãos dadas a Pacheco, rompeu com o
governo. Dizem até que vai deixar a sabatina para depois das eleições.
Na categoria "não é lobby, é
hobby", o JusPorn Commitee celebra a expansão global da juspornografia do
encontro. Lide, Esfera e IDP repaginaram o circuito Elizabeth Arden dos
encontros magistocráticos com muito recurso público e conjunção de interesses.
Não é só Lisboa.
Na categoria "não é lobby, é
empreendedorismo familiar", saudamos a expansão do business model
magistocrático. A juspornografia prospera na magisto-family tradicional
brasileira, formada por magisto-babies, magisto-wives e magisto-sisters. Nesse
family-office, advogados parentes mostram o caminho da celeridade processual e
da ampla defesa carnal.
Foi por isso também que Luiz Fux, patrono da
magisto-family, acompanhado de outros ministros, autorizou "nomeação de
cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou
colateral". Na reta ou na colateral, a juspornografia vai democratizando a
jurisdição indecorosa.
Menção honrosa a ministro cuja empresa
prospera em contratos rentáveis. Rendeu até "Almoço Empresarial Lide com
André Mendonça" para "debater perspectivas e desafios do cenário
econômico". Não é lobby, é coragem empresária!
E terminamos essa abertura com a categoria
onde tudo cabe: "não é lobby, é sacanagem público-privada". Não
porque Toffoli compartilhou camarote da final da Libertadores na boa companhia
de Cláudio
Castro e queremos saber mais quem. Mas sobretudo porque, para
fazer porno-justiça à banqueirofilia, virou relator do caso de Vorcaro,
patrocinador de eventos frequentados por ministros fora do país. Na primeira
canetada, decretou
sigilo no processo. Fiquemos de olhos bem fechados.
No exercício do nosso dever constitucional do
voyeurismo, voltamos na semana que vem. Nem falamos ainda dos salários
top-less!

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