Folha de S. Paulo
Prisão do presidente da Assembleia
Legislativa do RJ é apenas um episódio da crise
Parlamentares querem leis para fugir da
polícia; há negociatas em tribunais
Desde 1995, a Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro (Alerj) teve seis presidentes. Quatro foram presos, no
comando da casa ou no comando de coisas ainda piores, como o ex-governador
Sérgio Cabral Filho. Que tenham prendido mais um presidente da
Alerj deveria causar surpresa? Ou tédio enojado?
Qualquer leitora de jornais dirá logo que
essas perguntas estão erradas, pois não se trata de problema específico da
Alerj ou do Rio de Janeiro, embora meus conterrâneos estejam de fato
exagerando, por assim dizer. Há mais evidências de que a corrupção está
mais disseminada, tolerada, perigosa e, agora, é motivo central de uma das
maiores querelas institucionais do Brasil —parlamentares contra Supremo.
A corrupção é cada vez mais sistemática ou organizada em gangues políticas. O exemplo mais recente é o desse Rodrigo Bacellar (União Brasil), que presidia a Alerj. Foi preso nesta quarta pela Polícia Federal porque acusado de prestar serviços a um grupo criminoso, vazando informações a fim de ajudar um comparsa a fugir da polícia, no caso um deputado acusado de ser próximo do Comando Vermelho.
A corrupção é escandalosamente tolerada
—basta lembrar o caso das
rachadinhas daquela famosa família. Está mais e mais conectada
ao dito "crime comum". A corrupção vai além do suspeito de sempre, o
Legislativo —vide as investigações
de vendas de sentenças e outras negociatas em Tribunais de
Justiça e no Superior Tribunal de Justiça.
A corrupção tornou-se problema institucional maior e crônico, por vias
indiretas, mas gritantes. Nesta quarta, o ministro Gilmar Mendes, do STF, decidiu que o
pedido de impeachment de ministros do Supremo deve partir da Procuradoria-Geral
da República —o caso ainda vai para o plenário do tribunal. Se
a decisão tem fundamento constitucional é assunto para entendidos. O que
importa aqui, agora, é que se trata de mais um capítulo do embate entre STF e
Congresso. O Senado reagiu e diz que pode votar emenda constitucional que trate
do assunto.
Parlamentares, em particular da direita e da
extrema direita, querem cabeças do Supremo. A julgar por outras votações
relevantes, a maioria quer aprovar leis que a ajude a fugir da polícia e da
Justiça. Vide o caso da PEC da
Blindagem. Sim, o Supremo está fora da casinha institucional e
politizado de modo indevido faz mais de década. Mas o limite constitucional da
atuação do Judiciário é assunto da minoria parlamentar que se ocupa de assuntos
públicos sérios.
Faz mais de dois anos, deputados e senadores
estão incomodados com as investigações de roubança de emendas parlamentares. A tentativa
de "blindagem" piorou com a lambança das emendas e depois de o
ministro Flavio Dino elaborar um plano para colocar alguma ordem na casa.
Operações contra o crime organizado e contra
o crime empresarial ou financeiro organizado frequentemente passam perto do
mundo político: pegam amigos, assessores, parentes, sócios. Já pegaram alguns
bagrinhos. Há tubarões nervosos. De qualquer modo, seja qual for o motivo,
"político" ou outro, parlamentares querem evitar que a gentalha seja
processada ou presa. Deputados da extrema direita fogem do país para escapar da
polícia, com a tolerância do Congresso.
É uma nova crise de corrupção institucional,
que ocorre quando descobrimos o tamanho das facções e suas relações com
empresas e finanças. Pior, pode bem haver laços entre todos esses bandos.
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