terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Petistas rebatem ataque de Marta, mas partido não deve puni-la

• Para colegas, ex-prefeita busca pretexto para justificar saída da sigla

Fernanda Krakovics e Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - As críticas ao governo Dilma Rousseff e ao PT, feitas pela senadora e ex-ministra Marta Suplicy (PT-SP), em entrevista publicada no último fim de semana no jornal "O Estado de S. Paulo", foram ontem o pano de fundo da cerimônia de transmissão de cargo para o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, um dos alvos da petista. Integrantes do PT presentes à cerimônia condenaram as declarações de Marta, que defendeu abertamente o "Volta, Lula", disse que o ex-presidente está "extremamente incomodado" com Dilma e que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) é "inimigo do Lula".

Na série de ataques, a ex-ministra concluiu dizendo que "ou o PT muda ou acaba". As críticas provocaram mal-estar nas fileiras internas do partido. No entanto, ela não deverá ser punida pelas instâncias partidárias.

O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) considerou a entrevista um "desastre total", e avaliou que ela teria sido motivada pelo desejo de Marta de disputar a prefeitura paulistana. O PT, no entanto, pretende lançar Fernando Haddad à reeleição.

- Achei um desastre total. Na verdade as críticas têm mais a ver com a sucessão na cidade de São Paulo do que com os temas nacionais - afirmou Bittar.

Preocupação com mandato
Já no fim da entrevista, Marta analisou a ampla vitória de Aécio Neves em São Paulo como resultado de um voto "anti-PT, pelos desmandos que o PT tem perpetrado nesses anos todos".

Ontem, o secretário-geral do partido, deputado Geraldo Magela (DF), tentou minimizar.

- O PT é uma metamorfose ambulante, estamos sempre mudando. Se for isso, então não tem problema - disse ele.

Líderes do partido ouvidos ontem pelo GLOBO descartaram a possibilidade de uma punição à ex-ministra. No partido, há quem acredite que o objetivo de Marta é gerar uma crise interna que justifique legalmente sua saída do PT. Assim, ela poderia preservar seu mandato, já que, pela regra da fidelidade partidária estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o mandato pertence ao partido, a menos que haja justa causa, como "grave discriminação pessoal".

Ataques a Juca Ferreira
O ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), um dos mais próximos de Dilma, não quis comentar:

- Só falo sobre o Juca. Ele será um excelente ministro, fará excelente trabalho, foi uma excelente escolha.

Na entrevista, Marta citou pela segunda vez "desmandos" de Juca quando ele foi ministro da Cultura de 2008 a 2010.

- Para criticar o Juca tem que dizer do que se trata. O Juca foi uma boa escolha, assim como a Marta foi anteriormente. É errado esse método, tem que dizer qual foi o desmando - disse o deputado Nilmário Miranda (PT-MG).

Um dos alvos de Marta, Mercadante se recusou a fazer comentários ao deixar a solenidade no Ministério da Cultura.

Em conversas reservadas, Marta tem listado fatos que, na sua opinião, configuraria "grave discriminação pessoal". Os principais motivos citados por ela para deixar o partido, segundo pessoas próximas, seriam as vezes em que foi preterida na disputa interna. Isso aconteceu em 2006, quando o PT preferiu lançar Mercadante ao governo de São Paulo, e em 2012, quando foi pressionada a retirar seu nome em favor de Haddad para a prefeitura.

- Ela está muito magoada e isso faz parte da política. Acho que é fruto de um acúmulo de descontentamentos que vem sentindo desde a eleição passada. Mas Marta tem espaço para fazer a disputa política dentro do partido se ela quiser. Acho que o PT deveria ter uma meia dúzia de Martas, só não concordo com ela ter usado a mídia para falar. Poderia ter feito isso nas instâncias partidárias - disse Francisco Rocha, coordenador da tendência Construindo um Novo Brasil, da qual Marta faz parte.

- Discussões dentro do partido são naturais e próprias do sistema democrático. Pode-se discutir se o formato é o correto ou não. Não enxergo uma estratégia jurídica para avalizar um desligamento do partido - afirmou Hélio Silveira, especialista em direito eleitoral. (Colaboraram Julianna Granjeia e Tatiana Farah)

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