O sucesso da reunião de Durban cria as bases para se pensar num acordo global de redução das emissões. O Brasil fez parte da solução, com a ministra Izabella Teixeira quebrando o impasse ao dizer que o país aceitaria metas, e com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo encontrando a fórmula que rompeu um dos bloqueios. O Brasil sempre teve papel importante nas reuniões do clima.
Conferências diplomáticas normalmente são mornas, previsíveis e protocolares. As emoções na luta por palavras nos documentos só são entendidas pelos próprios negociadores. Para os outros, tudo parece uma briga semântica, uma disputa por sinônimos. Nas COPs, no entanto, os debates são emocionantes, as discussões acontecem à luz do dia ou sob cansativas vigílias. Até o último minuto um abismo separa fracasso de sucesso. Pessoas choram, delegados dormem em locais públicos estafados pelas horas finais.
Durban, pelo relato dos jornalistas, foi tudo isso em uma intensidade maior. Foi a mais longa das COPs, terminou apenas no domingo, quando estava previsto para acabar na sexta-feira. De Copenhague, em 2009, esperava-se tudo. O que saiu foi considerado nada, mas foi com esses retalhos de acordos, pontos de concordâncias e rascunhos que se costurou um avanço em Cancún, a reunião marcada para ser apenas a ressaca de Copenhague. Para Durban, todos foram desesperançados e, de repente, de lá saíram três boas notícias: a renovação de Kioto; a consolidação do Fundo Verde desenhado em Cancún; as linhas gerais de um acordo global do clima em que haverá metas obrigatórias para todos os grandes emissores, Estados Unidos, China, Brasil e Índia, incluídos. A mais resistente foi a Índia, que sempre põe sobre a mesa o fato de que tem 450 milhões de pessoas sem energia; mas é a Índia que também pode ficar sem as suas monções, em cenários de transformação do clima.
A próxima convenção será em Catar e lá terão que ser dados passos mais sólidos na direção desse acordo, que será fechado até 2015, para entrar em vigor em 2020. No meio do Caminho entre Durban e Catar tem o Rio de Janeiro.
Ontem, no twitter, a comissária da União Europeia para mudança climática, Connie Hedegaard, informou que já estava em Nova York para a última reunião de Painel de Mudanças Climáticas e que a recomendação lá era para que o foco na Rio+20, em junho, seja no acesso à energia sustentável e na preparação para a próxima batalha climática.
Muitos ambientalistas saíram da reunião reclamando e subestimando o que foi conquistado. Esse é o papel das ONGs. Precisam mostrar que o passo dado é insuficiente para o objetivo ao qual se quer chegar. As COPs trabalham para limitar em dois graus Celsius o aquecimento global; porém já se sabe que, se todas as metas forem cumpridas, mesmo as que nem foram completamente aceitas, ainda assim o aquecimento do planeta pode superar esse nível. Desde 2009, o Met Office, o Inpe britânico, trabalha com cenários de quatro graus ou mais. Portanto, o esforço terá que ser ainda maior.
Essas Conferências das Partes, as COPs, são um esforço impressionante de formação de consensos, avanços milimétricos, encontros de palavras que agradem a todos nos documentos. E por todos, entenda-se quase 200 países, que vão dos Estados Unidos, China, aos pequenos países-ilha. Nações que vivem da energia fóssil, como Venezuela e Arábia Saudita, gostam de sustentar posições radicais, que só dos ingênuos esconde a vontade de bloquear as negociações.
Nesse ambiente, o Brasil assumiu protagonismo logo no início da discussão, quando ajudou a desenvolver o Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, que transformou em medida concreta o que eram apenas ideias teóricas. Durante alguns anos, o Brasil jogou na retranca, aferrado à tese de que todo o esforço de redução das emissões tinha que ser feito por quem emitiu primeiro, os países industrializados. Em 2009, em Copenhague, o Brasil deu o primeiro passo para romper com essa posição histórica à qual se agarravam o Itamaraty e o Ministério da Ciência e Tecnologia e caminhou no sentido de aceitar metas. Se o Brasil quiser conter suas emissões terá que lutar contra o desmatamento. Se parar de queimar floresta, que é a forma mais burra de emissão, poderá conciliar desenvolvimento e as metas que está assumindo. O que pode ser bom para o planeta, mas é melhor ainda para nós mesmos.
Curiosamente, a União Europeia, que tem tido um papel de indiscutível liderança, está dividida na economia mas não no clima. Ontem, a comissária Hedegaard comemorou também o fato de que os analistas veem a atuação unida dos 27 países como mais importante do que se eles agissem individualmente.
Os Estados Unidos foram mais cooperativos este ano em que o governo Obama já está chegando ao fim. Para o clima, é melhor um segundo governo Obama do que a eleição de algum republicano fundamentalista que retome a surrada discussão sobre se existe ou não aquecimento global. Uma mudança de governo em Washington colocará a negociação climática em compasso de espera na próxima reunião, como foi a COP-14, em Poznam, na Polônia.
Agora, o que o Brasil precisa é ter políticas internas coincidentes com a posição internacional de conter as emissões. Por enquanto, algumas das decisões tomadas pelo governo parecem ir no sentido exatamente oposto.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário