Ao invés de desconforto, troca de gentilezas entre Dilma e Eduardo marcou nova passagem da presidente pelo Estado. Nem parece que relação PT-PSB está abalada
Ayrton Maciel
Com ambos procurando distensionar a relação, aparentar espontaneidade e disfarçar o desconforto político, o reencontro entre o governador, aliado e presidenciável Eduardo Campos (PSB) e a presidente Dilma Rousseff (PT), ontem, em Suape, não deixou de ser marcado, porém, por uma troca de "faturas", nas entrelinhas dos discursos, quando da solenidade de entrega do segundo navio petroleiro construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, o Zumbi dos Palmares.
Dilma - em tom de censura e resposta a Eduardo - criticou céticos e negativistas, e creditou a reconstrução naval do Brasil aos que acreditam no País. Provável candidato, em 2014, Eduardo tem andado o Brasil com críticas à economia e à desigualdade regionais. "A indústria naval não podia renascer concentrada. Temos pólos em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Estamos levando oportunidades a essas regiões. É o trabalho dos que apostam no desenvolvimento do País e não ficam só olhando o Brasil com olhares negativos", rebateu Dilma ante um Eduardo compenetrado.
Instantes antes, Eduardo havia saudado a presença de Dilma, agradecido os operários e ressaltado a persistência dos que lideraram e superaram as dificuldades do empreendimento - sobre os quais disse que demonstraram "a capacidade de quem quer fazer diferente" -, lembrou o DNA pernambucano do Porto de Suape e ressaltou que a maior parte do dinheiro nele investido é do Estado.
"Em 500 anos, temos o Brasil dirigido por uma mulher, que sucedeu a um filho do povo (ex-presidente Lula), que mudou Pernambuco. Agradeço aos que demonstraram a capacidade de quem quer fazer diferente. Nos últimos seis anos, encontramos uma parceria efetiva com a União. Investimos três vezes mais (em Suape) que em todos os anos anteriores. Mais de R$ 1,8 bilhão, sendo R$ 1,3 bilhão do orçamento de Pernambuco (em 30 anos) e R$ 500 milhões da União, R$ 300 milhões liberados por Lula e R$ 200 milhões pela presidente Dilma", destacou Eduardo, ante uma Dilma com feição contrariada e olhar dirigido à plateia.
O Porto de Suape esteve em meio à polêmica recente da Medida Provisória nº 595 (a MP dos Portos), aprovada pelo Congresso Nacional, que abre os portos à iniciativa privada e concentra o poder de decisão na União. Com isso, Suape perdeu a sua autonomia estadual.
Apesar dos recados, o reencontro de Dilma e Eduardo - dois meses depois do encontro recheado de farpas de Serra Talhada, Sertão, quando inauguraram a Adutora do Pajeú - teve mais troca de gentilezas e sorrisos, menos desconforto e tensão. Anunciados e depois chamados a discursar, os dois foram ovacionados pelos operários. Dilma entregou a bandeira do Brasil e Eduardo os documentos aos comandantes do Zumbi dos Palmares que ainda ontem zarpou para a bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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