O boato sobre o fim do Bolsa Família, que levou quase um milhão de pessoas a sacarem R$ 152 milhões do programa no fim de semana, gerou um bate-boca entre governo e oposição. Em Pernambuco, a presidente Dilma Rousseff não citou nomes, mas afirmou que o ato foi criminoso e desumano. De manhã, pelo twitter, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, acusou a oposição de estar por trás, mas recuou mais tarde, dizendo que era apenas uma opinião pessoal. Mesmo assim, PSDB e DEM classificaram a afirmação de Rosário como irresponsável e um atentado à inteligência. A PF ainda não identificou a origem dos boato
Após o boato, bate-boca
Dilma chama de "criminoso" autor de notícia falsa; ministra acusa oposição, que reage indignada
IPOJUCA (PE) e BRASÍLIA - Dois dias depois de iniciada a onda de boatos que levou cerca de 900 mil beneficiários do Bolsa Família a casas lotéricas e agências da Caixa Econômica Federal no fim de semana, a presidente Dilma Rousseff classificou ontem de "criminoso e desumano" o responsável pela disseminação da informação falsa, e logo o assunto virou tema de bate-boca entre políticos governistas e da oposição.
O estopim foi uma mensagem postada no Twitter pela ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Ela acusou a oposição de estar por trás da confusão, que gerou tumulto em 13 estados, entre eles o Rio e todos do Nordeste, e resultou em saques de R$ 152 milhões por parte de beneficiários que ouviram dizer que o programa iria acabar ou que receberiam um abono pelo Dia das Mães. A oposição, indignada, reagiu imediatamente.
Pela manhã, em Ipojuca, Pernambuco, a presidente Dilma fez um apelo para que os beneficiários do programa não acreditem nos pessimistas e nos boatos que, segundo ela, ocorrem de forma surpreendente. E acrescentou:
- Muitos brasileiros ainda recebem, ainda têm e terão que receber o benefício do Bolsa Família. O que aconteceu? Espalhou-se um boato falso, negativo, um boato que leva intranquilidade às famílias mais pobres deste país, que são aquelas que recebem o Bolsa Família. O boato era que o governo federal não ia pagar mais o Bolsa Família. É algo absurdamente desumano o autor desse boato. Além de desumano, é criminoso. Por isso, colocamos a Polícia Federal para descobrir a origem desse boato.
Dilma ainda garantiu que o programa não vai acabar:
- Deixo aqui claro o compromisso do meu governo com o Bolsa Família. Ele é forte, profundo e definitivo. Não abrimos mão do Bolsa Família. Quero dizer que esse dinheiro do governo é sagrado. Ou seja, nós iremos garantir sempre esses recursos, enquanto for necessário e tivermos alguma família vivendo abaixo da linha da pobreza.
Enquanto a presidente discursava, a ministra Maria do Rosário postou a seguinte mensagem pela manhã: "Boatos sobre fim do bolsa família (sic) deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política".
A imediata repercussão levou Maria do Rosário a escrever mais duas mensagens, primeiro recuando e depois dando o assunto por encerrado: "Gente, sobre tweet hj pela manhã, quero dizer que não tenho nenhuma indicação formal da origem de boatos. Singela opinião. Ñ quero politizar", postou ela. Em seguida, completou: "O importante é que todos os esclarecimentos estão sendo realizados. Escrevi bem cedinho e nem imaginei tal repercussão... Encerro o assunto."
Mas já era tarde: a oposição reagiu no Congresso. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse ter recebido com indignação as declarações de Maria do Rosário:
- Como pode alguém que ocupa um lugar na Esplanada dos Ministérios dar uma declaração tão irresponsável? É um absurdo, merece uma reprimenda muito dura por parte da chefe dela, que é a presidente Dilma. Quem tem know-how em espalhar boatos, experiência em fabricar dossiês, como o dossiê dos aloprados, é o PT, não a oposição. É uma pessoa que não tem condições de ocupar um lugar em um ministério.
A liderança do PSDB na Câmara protocolou um pedido de explicações à ministra.
O presidente e líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), reforçou as críticas e devolveu a acusação:
- Não terá sido um ato do próprio governo para se vitimizar, de tão boba que foi a acusação? Isso é um atentado claro à inteligência da oposição.
O senador Romero Jucá retrucou:
- Isso é desespero dos caras da oposição fazendo campanha.
Já o senador Jorge Viana (PT-AC) preferiu condenar a disseminação do boato:
- Não entendo por que a oposição está vestindo a carapuça. Foi uma ação criminosa nesse fim de semana que procurou atingir o programa para uma população que tem no Bolsa Família sua única forma de amenizar o sofrimento. Poderíamos ter tido uma grande tragédia com esse boato, é quase terrorismo essa indústria de boato. O que falam sobre inflação e sobre os problemas do país, há pessoas que se organizam para trabalhar contra o país. Se for isso, 2014 está começando muito mal. Ninguém foi mais vítima de boatos que Lula e o PT.
Ministra rechaça acusação contra oposição
Diante do desconforto provocado pela frase da ministra, deputados do PT afirmaram ontem que oficialmente ainda não há informação sobre quem espalhou os boatos. O vice-líder do PT, Sibá Machado (AC), disse que Maria do Rosário pode ter se deixado levar por acusações que muitos fizeram nas redes sociais.
A opinião de Maria do Rosário também foi rechaçada pela ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que, já no sábado à noite, havia divulgado nota de esclarecimento dando conta da continuidade do Bolsa Família, e em nenhum momento sugerira a possibilidade de envolvimento de partidos de oposição nos falsos rumores de que o programa terminaria.
Indagada ontem sobre a declaração de Maria do Rosário, Tereza Campello foi categórica:
- Não concordo, não existe nenhum indício de que isso tenha qualquer procedência. Isso não é a posição do governo. A posição do governo é: nós não sabemos de onde surgiu essa notícia.
Tereza Campello lembrou que já afirmara, em entrevista coletiva no domingo, que não acreditava que a oposição pudesse estar envolvida:
- Nós não acreditamos que esta atitude possa vir da oposição, até porque prejudicou bastante muita gente. Duvido que alguém possa ter alguma coisa a ganhar com isso.
Convocada a investigar de onde partiu a onda de batos, a Polícia Federal não deu nenhuma informação ontem que possa ajudar a desvendar o mistério. Dilma lembrou que existem 36 milhões de cadastrados no país, pessoas que precisam do programa para ter "um pouco de dignidade na vida".
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário