A Aliança do Pacífico, constituída na semana passada num encontro entre os presidentes da Colômbia, do Peru, do Chile e do México (com a adesão imediata da Costa Rica e a presença de observadores representando Paraguai, Uruguai, Canadá, França, Espanha, Portugal, Japão, Austrália e Nova Zelândia) desponta como polo aglutinador dos países latino-americanos abertos a investimentos e trocas entre si e com os grandes mercados globais. Configurando-se concretamente como alternativa a um Mercosul dominado pela parceria estreita e ao mesmo tempo conflitiva entre o Brasil e a Argentina e pela influência do velho ideologismo “anti-imperialista”. Exasperado com a entrada da Venezuela, e que mantém seus membros à margem de importantes acordos bilaterais e das grandes e relevantes cadeias produtivas multilaterais. Distorções agravadas pela aguda crise do chavismo em Caracas; pela deterioração da economia argentina; e pela queda do peso do Brasil no mercado internacional e na atração de investidores externos
Tema político-econômico importante da imprensa nos últimos dias, o contraponto entre o novo bloco e o Mercosul foi objeto de reportagens e avaliações da Folha de S. Paulo, do Estadão, da Veja, do Valor Econômico, de O Globo. Chamada, subtítulo e abertura de matéria da Folha: “Viés liberal da Aliança do Pacífico desafia Mercosul”. “Novo bloco exportou 10% a mais em 2011 do que o grupo que o Brasil integra”. “Com um PIB de 35% do total latino-americano e crescimento que supera os vizinhos do Mercosul, a jovem Aliança do Pacífico dividiu a região e já disputa interesse como “alternativa pró-mercado do continente”. Trecho da matéria de Veja: “México, Colômbia, Peru e Chile iniciam uma área de livre comércio ao zerar as tarifas de 90% dos seus produtos de exportação. Enquanto isso o Mercosul afunda”. A avaliação feita pelo Valor, em coluna do jornalista Sergio Leo – “Aliança do Pacífico preocupa o Brasil” – incluiu entrevista do presidente do Centro Empresarial da América Latina, Ingo Plöger, que afirmou: “A falta de iniciativas no Mercosul capaz de polarizar as atenções, como a Aliança do Pacífico, mostra que o Brasil perde liderança nesse campo e vacila na criação de uma agenda capaz de ampliar a ação das empresas brasileiras na região. A lógica do Mercosul muito influenciada por concepções de substituição de importações, produção local e proteção de mercado, parece para os empresários em descompasso com a tendência global de fragmentação das etapas da produção industrial”.
As restrições sofridas pelo Brasil em decorrência da estreiteza e do isolamento do Mercosul (a partir da rejeição à Alca, no final do primeiro governo Lula, e reiterado na sequência pelo bloqueio a um acordo com a União Europeia), essas restrições foram compensadas – de 2005 em diante e até 2011 – de um lado, pelo salto da receita das commodities de matérias primas (agrícolas, minerais, metálicas) e, de ou-tro, com a capitalização das boas perspectivas criadas pela estabilidade macroeconômica do país. Mas, agora, elas têm seus efeitos negativos potencializados pela queda da cotação dessas commodities, combinada com a baixa competitividade de nossa produção industrial e pela progressiva erosão dos fundamentos da estabilidade, que passa a inibir investidores externos. Tudo isso se refletindo num déficit do balanço de pagamentos já estimado em 3% do PIB.
Esse cenário das relações externas (que poderia começar a ser revertido por uma guinada realista, possível mas improvável, do Brasil no Mercosul), interliga-se com o aumento das distorções macro e microeconômicas domésticas vinculadas à intensificação do populismo assistencialista na campanha reeleitoral do Palácio do Planalto. E a soma dos dois ampliará muito o custo do enfrentamento das sérias consequências conjuntas (econômicas, sociais e políticas) em 2015, pela própria Dilma Rousseff, ou por um presidente eleito pela oposição.
Jarbas de Holanda é jornalista
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