Há sinais discretos de azedume com preço de comida e ônibus, com a economia, mas nada grave
Primeiro, foi o preço do tomate. A seguir, houve o ligeiro tumulto por causa do aumento da passagem de ônibus. Depois, o que será? Quase nada, provavelmente.
A inflação fez algum estrago, as tardes do governo Dilma Rousseff não são mais fagueiras, mas o azedume não bastou para derrubar a popularidade da presidente, que desandou um tico, de uns 70% de aprovação para uns 60%, segundo pesquisas do governo.
Dilma Rousseff está com o filme queimado entre a elite econômica, o empresariado e a alta classe média, que no Brasil não passam de uns 2% da população, com boa vontade. No mais, o prestígio da presidente vai bem, mesmo com uma inflação da comida que ainda anda na casa dos 15% ao ano, muito acima da inflação média, em 6,5%, e dos reajustes de salário nas regiões metropolitanas, que têm andado entre 8% e 9% neste ano (em relação ao mesmo mês de 2012).
O próximo ano e meio não será muito animado, decerto.
O reajuste do salário mínimo será relativamente pequeno, pois vinculado à variação do pibinho, ao crescimento pífio da economia. O governo federal não terá como ampliar programas sociais de maneira significativa.
É provável, embora incerto, que o governo desista da política de "estímulos" ao crescimento, uma bobagem fracassada e agora ainda mais contraproducente, pois o Banco Central vai aumentando os juros.
Não haverá mais despejo de dinheiro para expansão do crédito nos bancos públicos; a banca privada anda na retranca desde 2011, mais ou menos.
Os salários anuais não vão mais crescer de 4% a 6% acima da inflação, como ocorria até o ano passado, mas em torno de 2%, se tanto, ainda assim além do aumento da produtividade média.
O dólar mais caro vai desestimular as compras de felicidade da classe média (as classes média e média alta reais, não essa das estatísticas de "classe C", na verdade pobres remediados). A classe média alta permanecerá o bastião de azedume nos anos petistas, em que viram sua renda real (pelo menos a do trabalho), crescer pouco.
Sim, o clima decerto mudou. Não estava tão ruim, mas nem tanto assim, desde 2005-06, quando a vida de quase todo mundo começou a melhorar. Até a indústria voltava então a crescer. Havia mais benefícios sociais (Bolsa Família e similares), aumentos fortes do salário mínimo, dólar barato para baratear insumos de produtos populares e para a classe média comprar seus "gadgets" e viajar. Tudo isso adoçou a vida nos anos Lula.
O empresariado ficava feliz com empréstimos subsidiados em massa, dinheiro quase grátis para financiar fusões, aquisições e oligopólios. O governo amolava pouco mais do que o habitual e mal se metia nos negócios privados (não mais do que o habitual), a não ser para fornecer mundos e fundos baratos, além de proteções tarifárias exorbitantes e outros favores.
Se o governo fosse arrumar a casa para valer, haveria choro e ranger de dentes. Na melhor das hipóteses, porém, vai dar apenas uma varrida nas bobagens piores que fez. Talvez o ajuste venha em 2015, sob Dilma Rousseff ou outro encarregado. E assim vamos levando a nossa vida medíocre, com jeitinho.
Fonte: Folha de S. Paulo
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