Aumento da inflação assusta o eleitorado feminino de renda mais baixa e traz de volta o medo do desemprego
Mauro Paulino diretor-geral do Datafolha, Alessandro Janoni diretor de pesquisas do Datafolha
Alterações no otimismo da população em relação a vetores da economia justificam a queda de popularidade do governo Dilma.
Como indica o Datafolha na pesquisa divulgada hoje, a crescente expectativa sobre o aumento da inflação entre os brasileiros projeta insegurança sobre as outras variáveis do cenário econômico.
Não só o poder de compra dos salários passa a ser relativizado com mais ênfase como também, e principalmente, a sensação de empregabilidade da população começa a sofrer arranhões consideráveis. O pessimismo sobre o desemprego chega ao maior patamar desde dezembro de 2009, resultado que na ocasião refletia ainda resquícios da crise americana sobre o imaginário brasileiro. É o pior desempenho desse indicador desde a posse da petista.
As mudanças mais expressivas de opinião quanto à atuação da presidente são observadas em segmentos com maior acesso à informação. Proporcionalmente, as quedas mais significativas de popularidade do governo Dilma se dão nos estratos mais escolarizados, de maior renda e moradores das regiões metropolitanas.
Mas caso a queda de avaliação do governo se limitasse a essas fortes mudanças localizadas na classe média tradicional, Dilma apresentaria no total da amostra oscilações de popularidade pouco significativas. São conjuntos de pequena participação quantitativa na composição da população em geral.
O que chama mais a atenção na pesquisa é que, dos oito pontos de popularidade que a presidente perdeu, a maior parte é proveniente de conjuntos menos escolarizados e de menor renda, especialmente do Sudeste e Sul. E o mais importante --as mulheres, muito mais do que os homens, deixaram de apoiar Dilma. E quando se focaliza o subconjunto de mulheres de renda mais baixa, essa tendência se potencializa.
Isso talvez porque, segundo a pesquisa, elas, mais do que eles, costumam ir a supermercados e experimentam diretamente no bolso o aumento de preços de diferentes categorias de produtos.
O resultado dessa equação também se estende sobre as simulações eleitorais para 2014. Nesse momento, Dilma perde pontos em todos os cenários propostos e até mesmo na intenção de voto espontânea, mas mantém franco favoritismo principalmente pelo expressivo apoio no Nordeste.
A ideia da reeleição agora depende, primordialmente, do controle da economia para que a percepção de insegurança não se concretize no temor revelado pela população --o desemprego de fato.
Fonte: Folha de S. Paulo
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