- Folha de S. Paulo
Acreditar, como quer a presidente Dilma Rousseff, que a vertiginosa sucessão de prisões e delações ligadas à Petrobras vai "mudar o Brasil para sempre" equivale a torcer, como se fez na Copa, por uma reformulação definitiva do futebol nacional após a goleada vexatória sofrida da Alemanha.
Reviravoltas nos hábitos políticos e sociais (incluindo os futebolísticos) são raras, mesmo nos escândalos cuja gravidade sobrevive ao alarido inicial. E não foram poucos: só no período após o restabelecimento da democracia, houve o afastamento de Collor, os anões do Orçamento, a compra de votos em favor da reeleição, o mensalão e seus parentes.
Não é que os episódios não tenham impulsionado mudanças ao longo do período --mas os avanços são parte de um processo lento, nem sempre contínuo, cujos resultados ainda são controversos.
São candidatos à lista a ampliação do alcance do Ministério Público, a Controladoria-Geral da União, as operações da Polícia Federal, a Lei da Ficha Limpa, as condenações de autoridades ao encarceramento.
A despeito do aprimoramento institucional, a descoberta e a investigação dos desmandos continuam associadas a conflitos de facções na arena partidária e no aparelho estatal.
O impeachment começou com um irmão magoado, e o mensalão foi denunciado por um deputado aliado sob ameaça. O governo FHC reclamava de procuradores da República que, de fato, se tornaram menos atuantes nos governos do PT; agora, o ministro da Justiça quer investigar possíveis inclinações tucanas entre delegados da Operação Lava Jato.
Desde Vargas, a esquerda acusa a direita de explorar casos reais e imaginários de corrupção para chegar ao poder, a mesma queixa que governos passados faziam do PT oposicionista. No eleitorado, subsiste boa dose de tolerância às malfeitorias; no debate político, indignação e complacência se alternam conforme o réu.
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