terça-feira, 18 de novembro de 2014

José Casado - Clube da propina

- O Globo

Eles chamavam de "clube". Eram poucos os sócios, todos engravatados ocupantes de posições-chave em uma dezena das maiores empreiteiras do país. Partilhavam interesses de R$ 58,6 bilhões em contratos com a Petrobras para obras nas refinarias Abreu e Lima (PE), de Paulínia (SP), do Paraná, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, e no gasoduto Urucu-Manaus (AM), entre outras.

"Todos têm a ver com tudo e tudo tem a ver com todos" - repetia o líder informal do grupo, o empresário Ricardo Ribeiro Pessoa, a quem alguns associados se referiam como coordenador. A empresa de Pessoa, a UTC Engenharia, novata no ramo da construção pesada, floresceu a partir de 2010 no jardim das licitações da Petrobras.

Pessoa atravessou as últimas três noites na carceragem da Polícia Federal em Curitiba ao lado de alguns parceiros, presidentes, conselheiros e diretores das empreiteiras Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior e Iesa. Todos são acusados de fraudes e corrupção.

Foram traídos pela própria arrogância, como indica o processo judicial: há gravações e registros escritos das reuniões do "clube", com presença de políticos e dirigentes da estatal, nas quais eles discutem obras e acertam pagamentos de propinas.

Dias atrás Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, detalhou em juízo:

- Nós tínhamos reuniões, com uma certa periodicidade, com esse grupo político, né? E então se comentava "ó recebemos isso, recebemos aquilo".

Completou, para o juiz federal Sérgio Moro:

- Na minha agenda, que foi apreendida na minha residência, tem uma tabela que foi detalhada junto ao Ministério Público. E essa tabela revela vários valores de agentes políticos, de vários partidos, que foram relativos à eleição de 2010.

Youssef, operador financeiro do Partido Progressista (PP), também confirmou a existência do "clube". Moro pediu detalhes. Ele deu:

- Na verdade, essas reuniões eram feitas às vezes com empresas individualmente, ou com as empresas, às vezes, junto com o diretor Paulo Roberto e o próprio agente político que estava no comando da situação (contrato da Petrobras), pra se discutir exatamente questão de valores, questão de quem ia participar do certame (licitações na estatal), esse tipo de situação...

- Era feito uma ata... - acrescentou, torturando o idioma. - Eram feitas atas de discussão de cada ponto que estava sendo discutido ali naquele dia, entendeu?

- Mas, desculpe, era uma ata formal? - perguntou o juiz, com perplexidade.

- Uma ata escrita - respondeu Youssef.

- Mas constavam esses detalhamentos? - insistiu Moro.

- Constavam os detalhamentos, Vossa Excelência.

O advogado de Youssef interveio:

- Inclusive algumas dessas atas (ele) se comprometeu a entregar, se tiver o acesso.

Youssef completou:

- É. Está na mão de interpostas pessoas... de terceiro, que ficou de me entregar pra poder entregar ao processo.

- Ou seja, todo mundo ali sabia do que estava acontecendo? - perguntou o advogado, de certa forma ecoando a frase predileta do empreiteiro Pessoa, coordenador do "clube".

- Todo mundo sabia o que estava acontecendo.

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