• Manifestações de rua acendem sinal de alerta no PT
- Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff volta hoje ao trabalho, no Palácio do Planalto, com um plano de voo traçado em relação à Petrobras e à eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Dilma quer manter Graça Foster no comando da estatal, preferencialmente. No limite pode substituí-la por um quadro técnico da empresa. Em relação à Câmara, a presidente e a direção do PT podem até aceitar um nome do PMDB, desde que não seja o do deputado Eduardo Cunha (RJ), líder da bancada pemedebista e candidato já lançado ao cargo.
Logo depois da eleição presidencial, a indicação de um político para presidir a Petrobras contava com apoios no PT e pessoas próximas a Dilma. O nome mais cotado era o do governador da Bahia, Jaques Wagner. À época, fazia algum sentido, mas três semanas depois mesmo seus defensores mais ardorosos avaliam que a indicação de um político "passou do ponto", diante dos desdobramentos da operação "Lava-Jato". Efetivada agora seria menos uma solução e mais uma queimação de Jaques Wagner, petista próximo da presidente que deve ter um papel de destaque no segundo governo Dilma. A esta altura, qualquer petista que venha a ser indicado passará o sinal de que assume a Petrobras para salvar o PT.
Já não se cogita no governo e no PT um político para tirar a estatal do imobilismo. O que se procura é manter Graça Foster ou sua substituição por um quadro de carreira. Nessa ordem. Graça Foster tem a confiança da presidente Dilma. E nada do que até agora se disse sobre a prática de corrupção na Petrobras envolve a presidente da empresa. Direta ou indiretamente. Resta saber se Graça está em condições de tirar a estatal da paralisia, uma vez que a corporação não vê nela uma aliada.
Numa conjuntura em que 10 mil pessoas convocadas pelas redes sociais ocupam a Avenida Paulista, 50% a favor da volta dos militares e 100% para pedir o impeachment de Dilma - para não falar das dificuldades na economia -, a questão da Petrobras e a articulação de uma base de apoio no Congresso são o desafio real e imediato da presidente. Nesse contexto a eleição de Cunha é considerada um risco não só pelo poder de fogo que seria concentrado nas mãos de um aliado nada confiável, mas também pela mensagem com sinais trocados que a presidente passaria para a opinião pública.
Na campanha, Dilma prometeu tolerância zero com a corrupção. Cunha fez uma carreira sob a suspeição de conivência com irregularidades. O governo e a cúpula do PMDB avisam que mais dia menos dia o nome do deputado aparece entre os citados nos diversos acordos de delação premiada da Lava-Jato - seriam mais de 70, no total. Cunha dobrou a aposta e disse que vai propor a criação de uma nova CPI da Petrobras, na próxima legislatura.
Pode ser um blefe. Vale a pena registrar, no entanto, que o líder do PMDB e a presidente da República passaram a adotar um comportamento similar em relação à operação Lava-Jato. A exemplo do deputado, Dilma diz que vai até o fim e que a investigação pode mudar o país para sempre. Seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, nem ao menos ficou rubro ao se expor na televisão e falar em terceiro turno e declarar que a presidente mandou apurar tudo, quando se sabe que somente o Judiciário federal (e, de forma oblíqua, o Ministério Público Federal) pode instruir a Polícia Federal - a subordinação ao Ministério da Justiça é meramente administrativa. O fato é que Dilma e seu governo foram além do protocolar nas declarações sobre a Lava-Jato, como quem pouco se importa se a investigação levar a pessoas de seu governo e dos governos que a antecederam.
Cunha teria alguma chance de negociação se a decisão fosse exclusiva da bancada do PT na Câmara, mas Dilma e a direção do PT demonstram que não querem transigir com o deputado. O vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, ficou ao lado da presidente da República, pois sente-se desafiado pela emergência de Eduardo Cunha no partido. O deputado, sem dúvida, dispõe de base eleitoral na Câmara para vencer a disputa, marcada para o início de fevereiro de 2015. O governo tem meios para derrotá-lo, mas o uso da força pode deixar sequelas, como o próprio Cunha fez questão de advertir. Numa conversa reservada com amigos, o presidente do PT, Rui Falcão, não pareceu comovido com o argumento: "Não tem custo maior do que ter ele presidente".
Falcão, deve-se dizer, é contrário até ao acordo de rodízio feito entre as bancadas do PT e do PMDB, na Câmara, por entender que o acerto deveria valer também para o Senado, onde os pemedebistas têm maioria e sequer admitem abrir uma negociação. Mas se por acaso prevalecer o sentimento da bancada de deputados, a direção do PT deve apoiar qualquer outro nome do PMDB, desde que não seja o do deputado Eduardo Cunha. O PT quer estabilidade na Câmara, num momento em que o leque de dificuldades do governo vai da inflação alta e baixo crescimento até o abalo na imagem de um símbolo do orgulho nacional que era a Petrobras.
PT e governo estão preocupados com a "articulação da direita com a oposição". Passeatas como a da Avenida Paulista acenderam o sinal de alerta. É certo que por trás das manifestações estão nomes de segunda categoria da política nacional, como o deputado Jair Bolsonaro, mas o fato concreto é que a convocação levou 10 mil pessoas à Avenida Paulista, menos de um mês depois da reeleição da presidente.
O PT não esquece que um automóvel Fiat Elba levou ao impeachment do presidente da República. É bem verdade que Fernando Collor (1990-1992) não tinha partido, base social e só ganhou a eleição de 1989 porque o adversário era Luiz Inácio Lula da Silva, que à época não era o mito político de hoje. O PT e os governos de Lula e Dilma são diferentes, têm partido e base social. Mas a hipótese de um pedido de impeachment definitivamente entrou no horizonte do partido e da coordenação política do governo. Nesse quadro é prioritário para o PT fazer o presidente da Câmara agora e não daqui a dois anos.
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