- O Globo
O terremoto que atingiu o coração da economia brasileira ainda faz efeitos. A Petrobras vai reduzir valores de ativos, mas também pode alterar a depreciação, e isso, segundo Almir Barbassa, pode elevar os lucros. Não se sabe que números dos balanços já divulgados estão valendo. A ação da Eletrobrás caiu 9% ontem e 30% em um mês; a Petrobras vale 48% menos que em 2 de setembro.
Em rápida troca de mensagem, após a entrevista concedida ao mercado, o diretor financeiro Almir Barbassa informou à coluna que os critérios da revisão dos ativos estão sendo revistos, portanto, nada se pode adiantar. Mas admitiu que "aqueles ativos que sofrerem ajustes, naturalmente terão sua depreciação reduzida proporcionalmente". Perguntei se isso geraria mais lucro para os acionistas. "Ainda é cedo para saber, mas, pela melhor estimativa deste momento, haverá". Ele disse ainda que tem folga de caixa para mais de seis meses de operação. Barbassa também informou que a empresa ainda não sabe quanto tempo vai demorar o balanço auditado.
O auge do valor recente da Petrobras foi quando a ex-candidata Marina estava na frente. Chegou a R$ 24,5 a ação. Ontem, estava em R$ 12,6. Após as prisões deflagradas na sexta-feira, a economia parou. As empresas envolvidas são as maiores construtoras do país; a Petrobras é a maior companhia e as denúncias podem atingir também empresas elétricas. As empreiteiras atingidas estão em todas as grandes obras de energia. Nas construtoras, há dificuldades de avaliar a dimensão e consequências da descoberta do maior caso de corrupção da nossa história.
Só para efeito de comparação, o caso do Mensalão pegou o Banco Rural, que estava longe de ser dos grandes, duas agências de publicidade, também de porte médio, entre outras instituições financeiras menores. Nada foi, na área econômica, do porte do que está se configurando no escândalo da Petrobras.
- A Petrobras é uma empresa que funciona 24 horas, tem contrato novo todo dia para assinar, mas o corpo gerencial não quer assumir nenhuma responsabilidade numa hora dessas. Então está tudo parado - explicou o ex-diretor Wagner Freire.
- A Petrobras tem o maior programa de investimento de óleo e gás do mundo para os próximos anos e precisa captar para fazer esses investimentos. E, se alguém superfaturou uma conta, reduziu o lucro. Os acionistas podem reclamar. A Receita, também, por ser o acionista controlador, em nome de todos os contribuintes, pode requerer uma parte maior - diz David Zylbersztajn, ex-presidente da ANP.
Em relação às grandes empreiteiras envolvidas nesse escândalo, também é difícil dimensionar as consequências. Elas são conglomerados, e o que está sendo questionado até agora é a sua relação com a Petrobras. Mas, como informou o colunista Ancelmo Gois, as investigações podem ir para a área de energia onde elas tocam obras, algumas delas com seus preços elevados através dos aditivos.
A Petrobras tem ainda que lidar com uma mudança radical no seu ambiente de negócios. O preço do petróleo em queda no mercado internacional pode ser bom no curto prazo, lembra David, mas a médio e longo prazo a empresa exporta petróleo. E a queda pode continuar porque a economia mundial está caminhando para a descarbonização.
Os analistas dos grandes bancos estavam ontem todos raciocinando sobre os efeitos das mudanças dentro da companhia. Um deles lembrou que pode-se tirar dos ativos o valor superfaturado, mas não toda a elevação de preço. Por exemplo: parte da alta da refinaria Abreu e Lima foi causada pela saída da Venezuela do negócio, o que fez tudo cair no colo da Petrobras.
Outra analista acha que, se até janeiro a PwC assinar o balanço, ela poderá voltar a captar, mas agora, não. A Petrobras gera cerca de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões por ano de caixa, investe R$ 25 bilhões por trimestre e tem cerca de R$ 25 bilhões vencendo. Ou seja, ela teria algumas opções: aumentar de novo a gasolina, reduzir investimentos, vender ativos lá fora ou fazer nova emissão de ações, avaliam os analistas ouvidos.
Ontem a empresa disse que vai criar uma diretoria de governança. É incrível que não tivesse até hoje bons critérios de governança, com ou sem diretoria dedicada ao tema.
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