Na aula sobre problemas brasileiros que ministrou na quarta-feira, em seu instituto, a um grupo de blogueiros-companheiros, além de se proclamar coberto pelo manto inconsútil da probidade no trato da coisa pública – “Não tem uma viva alma mais honesta do que eu nesse país” –, Luiz Inácio Lula da Silva mostrou também que existe uma enorme diferença entre ele e sua ex-pupila Dilma Rousseff: ele fez o melhor governo da História do Brasil, ao passo que ela, apesar de bem-intencionada, está fazendo tudo errado, a ponto de o País afundar em crise.
As palavras de Lula delineiam com clareza a estratégia de se descolar da sucessora para se livrar do ônus que a impopularidade do governo Dilma representa para o futuro do PT e, consequentemente, para sua pretensão de reassumir a cadeira presidencial daqui a três anos. E para que não restem dúvidas sobre sua insatisfação com o comportamento da sucessora, Lula reiterou que ela precisa sair do imobilismo e anunciar logo as tais “boas notícias” que o País quer ouvir: “A Dilma tem que ter como obsessão a retomada do crescimento e do emprego”. E estabeleceu prazo para isso: “Ainda este mês”.
Às vésperas de Dilma assumir o segundo mandato, Lula fez forte e bem-sucedida pressão sobre ela para que nomeasse um ministro da Fazenda que pudesse contar com a confiança do mercado, de modo a facilitar o ajuste fiscal já então tido como indispensável. E já que a solução era um ministro identificado com o mercado, Lula indicou logo o banqueiro Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Teve que se contentar com Joaquim Levy.
Depois de um ano em que o ajuste fiscal patinou e a “reforma econômica” não chegou nem a ser cogitada pelo Planalto, Lula mudou de ideia sobre a importância de contar com o “apoio do mercado”: “Se em algum momento se acreditou que fazendo discurso para o mercado a gente ia melhorar, o que a gente percebeu é que não conseguimos ganhar uma só pessoa do mercado”. E foi cáustico com o ex-ministro: “Nem o Levy, que era representante do mercado no Ministério da Fazenda, não virou governo. Não ganhamos ninguém e perdemos a nossa gente”.
Agora, então, Lula está decidido a ficar ao lado da “nossa gente”, o que significa abandonar Dilma à própria sorte, já que ela teima em não ouvir os conselhos e recomendações do mestre sobre como tirar o País do buraco. Na verdade, as críticas do criador à criatura não são novidade. Pouco tempo depois da posse do segundo mandato, Lula já ensaiava, em âmbito restrito, queixas à condução que Dilma imprimia ao ajuste fiscal e às medidas de austeridade que representariam ameaças aos direitos dos trabalhadores. Com o estímulo discreto do ex-presidente, o PT e as entidades e organizações sociais manipuladas pelo partido começaram a sair às ruas para defender a bandeira de uma “nova política econômica”.
De “nova”, porém, a política econômica reclamada pelas “forças populares” não tem nada. O que se reivindica é o retorno à gastança que provocou durante o governo Lula grande euforia no mercado, devido ao amplo financiamento de bens de consumo e desonerações a setores selecionados da economia. Uma política que deixou todo mundo feliz enquanto durou, mas que era insustentável. Lula, porém, acha que o governo tudo pode e, se quiser, o dinheiro aparece.
Em algum ponto de sua brilhante trajetória política, de líder sindical dos metalúrgicos a presidente da República, vencedor em quatro pleitos presidenciais consecutivos, Lula se convenceu de que havia conquistado o dom de levitar acima do Bem e do Mal, o que lhe conferiu também o direito de proclamar disparates com presunção de verdade.
Do alto de seu elevado discernimento, passou a tratar os brasileiros como idiotas. Sua biografia certamente se valorizaria se ele se dispusesse a seguir o conselho que deu a Fernando Henrique Cardoso em 2003: um ex-presidente da República não deve dar palpite em assuntos do governo.
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