- O Estado de S. Paulo
Depois da queda de dois ministros, da onda de gravações e delações, das idas e vindas em programas e da extinção e recriação do Ministério da Cultura, ufa!, o presidente Michel Temer tenta retomar a dianteira política, neutralizar o noticiário negativo e emitir sinais positivos para o setor produtivo. É uma corrida de obstáculos, um de manhã, outro à tarde e um terceiro à noite. E sem ter segurança, até agora, sobre o destino final.
Enquanto o MTST invadia a sede da Presidência da República em São Paulo, Temer providenciava uma posse coletiva de presidentes de estatais e de bancos públicos no Palácio do Planalto em Brasília. Adivinhe qual das duas imagens a maioria esmagadora da população prefere: uma turba pichando prédios públicos e confrontando a polícia ou Temer ladeado por Pedro Parente (Petrobrás) e Maria Sílvia Bastos (BNDES)?
Se vale para a maioria, vale ainda mais para os empresários que reduziram a produção e convivem com estoques encalhados, os lojistas que fecharam seus negócios e seus sonhos, os desempregados que perseguem desesperadamente uma nova vaga ou uma chance para empreender.
Temer vai, assim, tentando se equilibrar entre protestos esparsos, mas bem divulgados, e uma agenda que passe sensação de estabilidade e de força no Congresso para começar a recuperar credibilidade e a deslanchar uma economia que, para muitos, chegou ao fundo do poço: quinta queda consecutiva do PIB, perspectiva de três anos seguidos de recessão e pior desempenho entre 31 países que apresentaram resultados do primeiro trimestre. Pior do que Rússia, Grécia e Ucrânia, que vive uma guerra civil. É ou não é uma proeza?
Sem recorrer a expressões ao gosto do ex-presidente Lula, como “herança maldita” e “agenda positiva”, Temer descobriu um filão marqueteiro na divulgação incessante dos dados da economia, uma forma de alimentar o pavor de que seu governo não dê certo o País afunde de vez. Simultaneamente, criou eventos que gerem notícias favoráveis.
A toda hora, um ministro, um líder e um amigo falam no rombo de R$ 170 bilhões que Dilma deixou nas contas públicas. No seu discurso de quarta-feira, Temer falou não só do rombo, mas da inflação que “exige vigilância” e dos mais de 11 milhões de desempregados. Na sua posse de ontem, Pedro Parente disse que “a Petrobrás foi vítima de uma quadrilha organizada para obter os mais escusos, desonestos, antiéticos e criminosos objetivos”.
E a agenda positiva, que não pode ser chamada de agenda positiva, incluiu a posse no Ministério da Transparência do jurista Torquato Jardim, que ganha em vários quesitos do antecessor que caiu, e mais algumas vitórias no Congresso para gerar a sensação de que “agora, vai”. Em pouco tempo, a nova meta fiscal foi aprovada, a flexibilização da DRU passou na comissão especial da Câmara, o impeachment definitivo de Dilma Rousseff ganhou celeridade na comissão especial do Senado.
Ainda é cedo, porém, para Temer respirar aliviado e, na busca do equilíbrio entre as más e as boas notícias, ele tem sido forçado a engolir o que não gostaria e a ceder mais do que pretendia. Já voltou atrás no Ministério da Cultura, no Minha Casa Minha Vida, em declarações de seus ministros sobre SUS. E teve de manter o reajuste errado, na hora errada, dos servidores públicos.
Se não para de falar na herança maldita, que também não pode ser chamada de herança maldita, como Temer aceita um gasto novo que pode chegar a R$ 56 bilhões até 2019? O Planalto diz que já está computado nos R$ 170 bilhões e que, como Dilma tinha fechado o acordo com o Congresso, não dá para romper com o funcionalismo inteiro. Ok, mas é de recuo em recuo que as contas públicas vão para o beleléu. Ah! E a Lava Jato continua a mil por hora. Nunca se sabe o dia de amanhã. Aliás, nem o de hoje.
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