- Folha de S. Paulo
"O máximo que se pode dizer é que há sinais esparsos de que as coisas estão piorando mais devagar. Algumas das boas notícias não convencem... Mesmo quando o pior passar, não terá passado. O desemprego ainda continuou a crescer por um ano e meio depois do fim oficial da recessão..."
Isto era Paul Krugman, o Nobel de Economia, escrevendo em abril de 2009 sobre a recessão que ainda devastava os EUA. Na superfície, as frases lembram o nosso caso de agora.
Lá nos EUA, otimistas viam então "brotos verdes", primavera econômica. Aqui, ainda tentamos enxergar se sobrou algo da plantação depois de uma praga de gafanhotos seguida de queimada e geada. Ainda está geando. Menos.
A nossa conversa sobre a luz de vela no fundo do poço do túnel adveio da melhora tímida da confiança econômica em maio, do resultado do PIB menos depressivo do que o esperado (nesta quarta) e de piscadelas de vida da indústria, ainda em coma (nesta quinta).
Uma surpresa positiva foi o investimento (em novas instalações produtivas, equipamentos e construções). Caiu menos do que o esperado nas contas do PIB. Além do mais, nas contas da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) cresce desde janeiro.
Parecem "brotos verdes". Não é isso. Melhor que nada, de qualquer modo.
Nesta crise, a indústria de bens de capital desceu ao mais profundo dos infernos em pelo menos 13 anos e, provavelmente, dos últimos 20 anos, a julgar por indicadores indiretos.
O nível de produção atual é 28% menor que o de abril de 2015. Até março, o consumo doméstico de bens de capital (produção local menos exportações, mais importações) ainda caia mais 27%, em um ano. A despiora do setor parece vir do aumento discreto das vendas no exterior, desde janeiro.
Em suma, o investimento apenas está caindo mais devagar. Melhor que nada, de qualquer modo.
Não haverá convalescença sem novos projetos de investimento. O setor privado estará na retranca por um bom tempo, ainda mais se o tempo voltar a fechar na política. O governo terá de ir ao ataque:
1) Destravando já concessões para investimentos em infraestrutura (que só devem vir em 2017 e olhe lá);
2) Limpando sujeira e ruínas de Petrobras, construção civil e setor elétrico;
3) Arrumando as normas que regulam setores que vão de teles e até, em escala menor, mineração, onde há algum dinheiro para investir, parado por falta de definições;
4) Dando um jeito na política econômica, fiscal, a fim de baixar juros o quanto antes.
Quanto à recuperação pelo consumo, a produção industrial vai depender de um cabo de guerra. De um lado, estão crédito e renda, caindo ainda em ritmo acelerado; de outro, estaria a confiança de voltar a comprar por parte de quem ainda tem algum (dinheiro e emprego).
Há, sim, otimismos. Os economistas do Bradesco escreveram assim, em comentário sobre o resultado da indústria: "Após a surpresa positiva com o resultado do PIB do primeiro trimestre, os dados da Pesquisa Industrial Mensal de abril reforçam nossa expectativa de estabilização da economia no segundo trimestre. Os sinais começaram a aparecer de forma mais consistente desde fevereiro e março deste ano".
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