• Ex-diretor da Petrobrás e delator da Lava Jato declarou à PF e à Procuradoria que comissões internas da estatal 'objetivavam apenas eximir de responsabilidade' a a petista pela compra de Pasadena, em 2006
Ricardo Brandt, Gustavo Aguiar e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo
O ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional) afirmou em sua delação premiada que no polêmico capítulo da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas – negócio que teria provocado prejuízo de US$ 1 bilhão à Petrobrás, em 2006 – ‘comissões internas (da estatal petrolífera) objetivavam apenas eximir de responsabilidade o Conselho de Administração e, especialmente, Dilma Rousseff’.
Segundo Cerveró, em certa ocasião a então presidente da Petrobrás Graça Foster lhe teria dito que estava ali ‘para defender a Dilma’.
As informações de Cerveró sobre Pasadena, Dilma e Graça estão no Termo de Colaboração número 6, que prestou dia 7 de dezembro – apenas doze dias depois da prisão do então senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS). O delator foi o pivô da cassação de Delcídio.
O Termo 6 é dedicado à aquisição da Refinaria de petróleo nos Estados Unidos. O delator fez o depoimento a dois delegados da Polícia Federal e dois procuradores da República.
Cerveró apontou que os membros do Conselho de Administração da Petrobrás ‘tinham consciência das cláusulas put aption e marlin’, que encareceram o negócio para a estatal e obrigaram a compra da outra metade da refinaria da sócia belga Astra Oil.
“Que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas”, afirmou Cerveró.
Segundo ele, foram formadas três comissões de apuração interna da Petrobrás para investigar irregularidades na aquisição de Pasadena. “Que o declarante sabe que os relatórios das comissões apontaram irregularidades no caso. O declarante não concorda com as conclusões constantes dos relatórios. Que na percepção do declarante as comissões internas da Petrobrás objetivavam apenas eximir de responsabilidade o Conselho de Administração da Petrobrás e, especialmente, Dilma Rousseff.”
Cerveró declarou que, ‘quando o caso da Refinaria de Pasadena adquiriu grande repercussão pública chegou a telefonar para a presidente da Petrobrás Graça Foster para tratar do assunto, na véspera de um depoimento que prestou na comissão de controle interno da Câmara dos Deputados’.
“Que a intenção do declarante era evitar contradições com declarações oriundas da Petrobrás. Que Graça Foster cortou a conversa e disse que estava ali ‘para defender a Dilma’.”
Segundo ele, Dilma ‘nunca abriu mão de ser presidente do Conselho de Administração, acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobrás, inclusive tinha uma sala na sede da Petrobrás, no Rio’.
“(Dilma) frequentava constantemente a Petrobrás, usando aquela sala. Conhecia com detalhes os negócios da Petrobrás, tinha amplo trânsito nas demais áreas, apenas não falava com Ildo Sauer (Diretoria de Gás e Energia).”
“Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobrás. Que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma Rousseff sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o Partido dos Trabalhadores. Que o declarante não tem conhecimento de que Dilma Rousseff tenha solicitado, na Petrobrás, recursos para ela, para políticos ou para o Partido dos Trabalhadores.”
Procurada, a ex-presidente da Petrobrás Maria das Graças Foster disse que não iria comentar o episódio.
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