Italo Nogueira – Folha de S. Paulo
RIO - Tendo como origem a corrupção na Petrobras, a Operação Lava Jato finalmente chegou à "capital do petróleo", onde o auge do setor significou esperança de retomada econômica, e sua debacle, a expectativa de ruína.
A ascensão e queda do Rio tem uma intrincada relação entre o "boom" da indústria do petróleo e sua retração após a operação, e a aliança pragmática do peemedebista Sérgio Cabral e o petista Lula (PT), que escolheu o Rio como uma de suas vitrines na Presidência.
Os efeitos dessa combinação também possibilitaram o esquema de corrupção apontado pela Operação Calicute, ligada à Lava Jato.
A aliança entre Cabral e Lula viabilizou convênios para execução de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas do Rio e o Arco Metropolitano. Já o crescimento na arrecadação dos royalties da produção de petróleo conseguiu manter o pagamento de aposentados.
Dessa forma, o Estado pôde destinar recursos próprios para ampliação de serviços públicos que se tornaram símbolos eleitorais, como as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora). Contudo, essa expansão sempre foi criticada pela falta de planejamento.
"Houve uma euforia, com uma expansão de serviços públicos que o Estado não daria conta num outro cenário", afirmou o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), presidente da comissão de orçamento da Assembleia Legislativa do Rio.
Naquele momento, segundo investigação da Lava Jato, Cabral já cobrava 6% de propina sobre as obras com recursos federais, entre elas o PAC das favelas e o Arco.
Na eleição de 2010, o então candidato Fernando Gabeira (PV) afirmou que a gestão Cabral atuava com "uma lógica de milícia" –agentes de segurança que cobram taxas para expulsar traficantes e supostamente dar segurança a determinadas regiões.
"Eu garanto a segurança e vocês me liberam o resto", comparou Gabeira. Ele se referia ao sucesso das UPPs e o que considerava complacência do "establishment" com os indícios de corrupção.
"A segurança foi por muito tempo financiada com ajuda de empresários, o que resultou nas UPPs. Havia uma simpatia do establishment por ele [Cabral]. Era também uma expectativa de ganhos comerciais, com a chegada da Olimpíada e da Copa. Isso agora acabou", disse.
Um dos que auxiliaram na instalação das UPPs foi o empresário Eike Batista, que também sofreu prejuízos com a "bolha do petróleo".
EUFORIA E REVÉS
O cenário começaria a mudar a partir do segundo mandato de Cabral. A presidente Dilma Rousseff substituiu repasses diretos de verbas federais por aval para empréstimos. Isso manteve os investimentos, mas aumentou a dívida do Estado –atualmente fora do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O avanço dos serviços públicos, notadamente as UPPs, passou a cobrar seu preço. Elogiada no início, a principal bandeira de segurança passou a não dar conta de toda a área que cobria. Sem estrutura e planejamento, passou a reproduzir falhas da "polícia do asfalto", afetando sua imagem –o principal exemplo foi a tortura do pedreiro Amarildo de Souza.
A imagem de Cabral já estava distante daquele político eleito com 66% dos votos válidos. A exposição da amizade com o empreiteiro Fernando Cavendish numa farra em Paris o tornou um político "contagioso" e principal alvo dos atos de 2013.
LAVA JATO
A Operação Lava Jato, deflagrada no início de 2014, afetou pouco a pouco a situação financeira do Rio ao paralisar a cadeia de negócios da Petrobras, instalada no Estado. Enquanto a crise se agravava, as investigações contra Cabral avançaram. O MPF mostrou que em agosto do ano passado, quando o salário dos servidores já sofria atrasos, o ex-governador comprou uma tela do artista Marcos Cardoso por R$ 14 mil, com desconto de 50%.
Cabral foi preso quando a ausência de recursos no Estado atingiu seu ápice.
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