Wilson Tosta - O Estado de S. Paulo
RIO - Derrotado nas urnas, questionado nas ruas e agora com parte de sua liderança na cadeia, o PMDB do Rio tem um grande futuro pelas costas.
Até recentemente, como mais importante seção do partido no País, chegou a ser cogitado para indicar Sérgio Cabral Filho como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff em 2010 e para ter o prefeito do Rio, Eduardo Paes, como possível candidato (próprio) a presidente da República.
Agora, se prepara para deixar o Palácio da Cidade, no fim de 2016, e o Palácio Guanabara, quando acabar 2018, sem nenhuma perspectiva próxima de retorno ao poder local. Pior: tem a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça em seu encalço, além da incerta possibilidade de mais prisões.
Com raízes no velho MDB chaguista, o PMDB fluminense viveu, de 2007 em diante, um ciclo aparentemente longo de poder. Depois de ganhar a filiação do casal Garotinho, quando Rosinha Matheus era a governadora, o partido elegeu Sérgio Cabral Filho duas vezes governador (2007 e 2010) e Paes duas vezes prefeito da capital (2008 e 2012). Dominava a Assembleia Legislativa e prefeituras e mantinha linha direta com o Palácio do Planalto. Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cabral conseguiu o apoio federal para projetos como a realização da Olimpíada no Rio de Janeiro e um vistoso pacote de obras. UPA , UPP e PAC viraram a siglas-símbolo da gestão peemedebista.
Os primeiros sinais de crise no partido vieram com as manifestações de junho de 2013. Cabral já sofrera o desgaste da revelação de sua proximidade com o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, posta em evidência por um trágico acidente de helicóptero na Bahia. Mas as passeatas de protesto contra reajuste nas tarifas de transporte, duramente reprimidas pela Polícia Militar, desgastaram o governador e deixaram até uma ocupação à sua porta, no Leblon - o Ocupa Cabral. O peemedebista passou a evitar eventos públicos. Em abril de 2014, renunciou para que Luiz Fernando Pezão, seu vice, pudesse vencer com um discurso de continuidade, em uma campanha em que Cabral apareceu poucos segundos.
A safra de más notícias aberta pelas manifestações de 2013, porém, apenas começara. Outro líder importante do partido no Rio, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois de capitanear uma guerra política contra o PT que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, acusado de corrupção, foi tirado do cargo, teve o mandato cassado e foi preso por ordem do juiz Sérgio Moro, na Operação Lava Jato. Seu afastamento da política é apontada como um dos motivos do aprofundamento dos problemas da legenda no Rio: Cunha era um conhecido articulador de financiamentos de campanha.
A situação do partido se agravou em 2015, com a falência do Rio de Janeiro, que coincidiu com o afastamento do cargo, de 28 de março ao fim de outubro, do governador Pezão, acometido de um linfoma não-Hodgkin, uma forma de câncer no sistema linfático.
Depois de meses de atrasos de salário e problemas em programas sociais, o governador reassumiu o posto e enviou à Assembleia Legislativa do Rio um pacote de ajuste que incluía um desconto de 30% nos vencimentos dos servidores.
O resultado foram uma invasão da sede do Legislativo e, nesta semana, choques de manifestantes com a PM. Foi nesse cenário de crise que ocorreu um dos últimos passos da queda do PMDB: a exclusão do candidato do PMDB a prefeito do Rio, Pedro Paulo, do segundo turno da eleição do Rio. Político de pouco brilho e marcado por acusações de agressão à ex-mulher, PP, apesar da campanha milionária, foi desbancado por Marcelo Freixo (PSOL), que teve poucos segundos de espaço diário na televisão.
Essa derrota, após uma Olimpíada e uma Palimpíada promovidas pela prefeitura controlada pelo partido e que deixaram um legado vistoso, como a nova Orla Conde, o VLT do Centro e três linhas de BRT, surpreendeu. Mas foi mais um sinal de que o tempo do PMDB no comando do Rio de Janeiro - capital e muito provavelmente Estado - pode estar próximo do fim.
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