- O Globo
A prisão do ex-governador Sérgio Cabral, chefe do grupo político do PMDB que governava o Estado do Rio e sua capital há quase uma década, é um golpe praticamente fatal na capacidade do governador Pezão de negociar um arrocho nas contas públicas do Rio. Sucessor de Cabral e sabidamente seu tutelado político, o governador não tem credibilidade para exigir sacrifícios para resolver questões econômicas geradas por irresponsabilidade fiscal e também por desmoralização de governos na mesma linha sucessória, perdulários e corruptos. Mesmo que por enquanto nada tenha sido denunciado contra Pezão, ele não pode se eximir de culpa tendo sido por quase oito anos o mais próximo aliado político de Cabral.
Da mesma forma sai atingido do episódio o prefeito Eduardo Paes, do mesmo grupo político que tinha Cabral como maior líder. A recente campanha para a prefeitura do Rio de Janeiro foi uma dura derrota política para Paes, que, assim como Cabral, viu desaparecer debaixo de seus pés o sonho de vir a ser um dia presidente da República ou, ao menos, governador do Rio.
A derrota do candidato Pedro Paulo, fora o debate sobre se bateu ou não na ex-mulher, deveuse em grande parte às acusações, feitas pelos oposicionistas que chegaram ao segundo turno, de corrupção nos governos peemedebistas de Cabral e Pezão.
Também deve-se à corrupção no primeiro escalão dos governos de Sérgio Cabral o fracasso do projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), uma política de combate ao tráfico de drogas que tinha grande possibilidade de êxito se não tivesse sido corroída pela politicagem e desmoralizada pela corrupção que se alastrou pelos vários escalões da administração. Sabe-se agora que até mesmo o xerife do combate, o ex-secretário José Mariano Beltrame, morava de favor em um apartamento de um dos laranjas de Sérgio Cabral, também preso ontem. Essa mistura entre o público e o privado, essa falta de compromisso com a honestidade, só pode desmoralizar a autoridade pública aos olhos de seus subordinados e, como não, estimular a bandidagem de fora do governo a enfrentar a máquina de repressão policial, com a moral baixa pelo que acabam sabendo dos bastidores corruptos de seus superiores.
A prisão de Sérgio Cabral, de vários de seus secretários, e também do ex-governador Garotinho — seu aliado original que depois tornou-se inimigo mortal —, mostra bem a quantas anda a podridão da política do estado do Rio de Janeiro. Garotinho, preso por acusações de fraude eleitoral em Campos, foi quem primeiro revelou a dolce vita de Sérgio Cabral e entourage, os jantares nababescos em Paris, a dança dos guardanapos com a presença marcante do empreiteiro Fernando Cavendish, que acabou sendo o delator que entregou todo o esquema de corrupção do Estado do Rio. Um estado quebrado economicamente e acéfalo politicamente.
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