Algumas das mais importantes escolhas políticas do presidente eleito Donald Trump já foram feitas e elas não prometem nem harmonia nem moderação no staff da Casa Branca. A nomeação dos encarregados para a escolha de quem ocupará cargos no governo revela prevalência de membros do segundo escalão do governo de George W. Bush e, especialmente para as agências reguladoras, defensores de interesses especiais que já trabalharam para indústrias que estarão sujeitas às normas concebidas pelos reguladores. O centro de gravidade pode mudar um pouco, para posições menos extremas, quando forem conhecidos os indicados para comandar o Tesouro, os conselheiros econômicos do presidente e os que vão lidar com o comércio exterior. Janet Yellen, presidente do Fed, disse ontem que pretende cumprir integralmente seu mandato, até janeiro de 2018.
Trump trouxe Reince Preibus, presidente do Partido Republicano, para a chefia de seu staff. Com ele, busca reconstruir pontes com o partido, cujos líderes insultou e derrotou nas prévias eleitorais. Esse lance, necessário para um outsider, foi contrabalanceado por outro que promete confusão na certa: a nomeação de Stephen Bannon como estrategista chefe. Bannon dirigiu o site da extrema direita "alternativa", conhecido por seus ataques racistas e sexistas e a pregação da supremacia da raça branca. Ele assumiu a campanha de Trump na reta final e discordou dos que queriam um tom mais moderado e centrista do candidato republicano. É qualificado de fascista até mesmo por membros da direita republicana e terá acesso permanente e direto a Trump.
Os sinais na área do comércio exterior são de que Trump ensaiará uma ofensiva protecionista e tentará ir na direção das promessas de campanha. Um dos conselheiros importantes de Trump é Dan Di Micco, ex-CEO da siderúrgica Nucor e cotado para o posto de secretário. Ele e o economista Peter Navarro, que assessora Trump, atribuem às manipulações cambiais da China os males que se abatem sobre a indústria americana. Navarro chegou a decretar que a "era dos déficits comerciais americanos chegou ao fim".
Um time de desregulamentadores pretende desfazer o que foi feito pelos democratas nos últimos oito anos. O republicano Stephen Moore, que acha que o mercado financeiro tem regras demais, opinará sobre indicações para o Federal Reserve e a comissão sobre o câmbio. Paul Atkins, que defendeu fim de limites à alavancagem dos bancos de investimentos quando foi membros da SEC entre 2002 e 2008, ajudará a indicar pessoas para o órgão. Segundo o "The New York Times " (14 de novembro), Jeffrey Eisenach, um ex-consultor da Verizon, é o chefe da equipe que nomeará os membros da Comissão Federal de Comunicação e Michael Torrey, que presta serviços às indústrias de alimentação, terá a mesma função em relação ao Departamento de Agricultura.
Ao negar que o aquecimento global tenha influência humana, Trump, que quer mais liberdade de ação para a indústria de petróleo e de energia, indicou na transição quem pensa como ele, Myron Ebell, de um instituto que já recebeu financiamento da Exxon. Nas questões domésticas, influirá na passagem de governo Ken Blackwell, que fez críticas pesadas aos direitos dos homossexuais. Para a imigração foi Kris Kobach, secretário do Texas, que pertenceu a uma organização classificada pelos defensores de direitos humanos de "grupo de ódio".
O resultado do trabalho desse time pode ser um governo que enfrentará batalhas judiciais do começo ao fim. Mais provavelmente no começo. Os filhos de Donald Trump, Ivanka, Eric e Donald Jr. estão também na equipe de transição e dirigirão o império de empresas do pai enquanto ele for presidente. Não haverá "blind trust", como é habitual no caso de presidentes endinheirados. Trump entregará à família a gestão de seus bens e não a profissionais independentes. O risco de que Trump continue a fazer negócios que o beneficiem no comando da Casa Branca, ou de ser suspeito disso é visível, imediato e enorme.
Populista e autossuficiente, Trump seguirá seus próprios instintos e ouvirá nas questões vitais um pequeno grupo de pessoas que não insinuam de maneira nenhuma moderação. Apenas constrangimentos legais e reações do Congresso demoverão Trump de muitas de suas ideias interessadas ou delirantes.
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