O Planalto e o PMDB tentaram se distanciar de Sérgio Cabral, alegando que o ex-governador era mais próximo do ex-presidente Lula do que da cúpula do partido. A ex-presidente Dilma disse que Cabral “jamais foi aliado”, apesar de terem mantido acordo político.
Aliados, agora, negam antiga proximidade
• PMDB não deve ser julgado por poucos, diz Temer; Dilma contesta aliança, que teve o bordão ‘Estamos juntos’
Júnia Gama, Simone Iglesias, Eduardo Barretto Geralda Doca - O Globo
-BRASÍLIA- A prisão do ex-governador Sérgio Cabral teve o efeito de afastar, imediatamente, seus antigos aliados, que ensaiaram uma versão de que ele não era tão próximo assim. Enquanto no Planalto e no PMDB o discurso sustentado ontem era de que não havia proximidade de Cabral com o governo ou com o partido, a ex-presidente Dilma Rousseff teve reação similar e negou ser aliada do ex-governador. Para ministros do presidente Michel Temer, Cabral era mais próximo do ex-presidente Lula, e agia isoladamente.
Temer fez um apelo para que o PMDB seja visto como um partido que teve e seguirá tendo papel relevante na História, que tem milhões de filiados, e não pode ser julgado pela conduta de poucos. Já Dilma tentou jogar o ex-amigo no colo do tucano Aécio Neves (PSDBMG) na eleição de 2014, apesar de o peemedebista ter mantido apoio à chapa dela.
No Planalto e na cúpula do PMDB, a avaliação é que a prisão de Cabral não respinga diretamente em Temer, nem nos principais caciques do partido. A definição atribuída a Cabral é de “outsider”, que agia isoladamente, com um esquema muito restrito ao Estado do Rio e que prosperou de forma visível durante o período em que governou o estado em dobradinha com Lula.
— Cabral, quando foi governador do Rio, era próximo do Lula. Tudo a mesma coisa, as mesmas amizades e as mesmas práticas — afirmou o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, um dos principais auxiliares de Temer.
No final do dia, Temer declarou que o PMDB seguirá com “papel relevante” para o país. Temer disse ainda confiar em seu auxiliar Moreira Franco, que também governou o estado. Michel Temer, que presidiu o PMDB por mais de 15 anos, pediu que a legenda seja analisada no contexto de “todas as suas ações em relação ao país”, e ressaltou que o partido tem mais de dois milhões de filiados. As declarações foram feitas por meio do porta-voz da Presidência, Alexandre Parola.
“O partido continuará a cumprir seu papel relevante para a História brasileira”, disse o presidente.
Ontem, a ex-presidente Dilma Rousseff declarou que “jamais” foi aliada de Sérgio Cabral, mas a proximidade entre os dois é evidenciada por campanhas, fotos, frases e discurso, desde antes de a petista ganhar a disputa para o Planalto. O bordão “Estamos juntos” foi usado por ambos várias vezes. A assessoria de Dilma Rousseff informou que ele apoiou o rival da petista nas eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves (PSDB). Em nota, a assessoria também diz que Cabral “orientou seus liderados no PMDB a votarem favoravelmente” ao impeachment.
— Podem falar o que quiserem. Nós, de nossa parte, estamos juntos — disse Dilma em 2013.
Apesar da aliança do PMDB do Rio com os tucanos, Cabral havia sido uma voz dissonante, defendendo a aliança com Dilma. Em março daquele ano, Cabral havia reiterado que seu apoio seria da então presidente.
O nome do ex-governador chegou a ser ventilado para o Ministério de Dilma no fim de 2013, mas não foi adiante. Na campanha de 2010, por redes sociais, Dilma agradeceu ao peemedebista pela preocupação com Gabriel, neto recém-nascido da então candidata. “Obrigada pelo carinho, Cabral. O Gabriel está ótimo, uma gracinha!!! #estamosjuntos!”, publicou.
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