Seria rematada tolice, não resta dúvida, atribuir demasiada importância ao grupelho que invadiu o plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira (16).
Seria imprudência, porém, deixar de ver no ocorrido um sintoma de exasperação de setores sociais com a política tradicional, que aqui e ali eclode em atos de violência.
O Brasil se encontra a léguas de distância, decerto, da deterioração do convívio democrático presenciada em nações como a Venezuela, para citar um exemplo vizinho.
Ocorre que esse tipo de desagregação nunca se inicia de chofre. Mais comum é uma gestação lenta, cujos sinais surgem aos poucos.
Não foi o primeiro desses episódios, afinal, embora tenha sido ímpar na exibição despudorada de ideias retrógradas, como a defesa de um golpe militar. Beira a hipocrisia, no entanto, criticar esses fascistoides apenas por escandirem palavras de ordem "de direita" em meio ao tumulto.
Nada justifica arrebentar portas e lançar insultos de baixo calão contra representantes eleitos pelo mesmo povo que, em seu delírio, dizem representar. Não há como negar, contudo, que seus métodos em nada diferem dos não menos aloprados "de esquerda" que tantas invasões têm promovido.
A começar, claro, pelas escolas secundárias em várias cidades do país, notadamente no Paraná. Com tais atos de força, uma minoria impediu seus colegas discordantes de ter aulas. E, pior, prejudicou centenas de milhares de pessoas, impedidas de fazer as provas do Enem.
Ninguém lhes nega o direito de protestar contra a reforma do ensino médio ou o teto dos gastos pretendido pelo governo Michel Temer (PMDB). Só preocupa a maneira autoritária de fazê-lo.
Tampouco é o caso de minimizar o sentimento de revolta de funcionários públicos do Rio de Janeiro com o ônus que o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) lhes quer impor para tapar o rombo nas contas do Estado produzido por ele e por seu antecessor e correligionário Sérgio Cabral —de resto, preso nesta quinta-feira (17) no contexto da Operação Lava Jato.
No entanto, não há escusa possível, numa democracia, para a vandalização que promoveram na Assembleia Legislativa fluminense. Nem, muito menos, para a agressão a jornalistas porque seus participantes discordam do órgão de imprensa que emprega o repórter.
Tais comportamentos não são de esquerda nem de direita –são, simplesmente, uma forma de estultice. Quem tem apreço pela via democrática de solução de conflitos, à esquerda ou à direita, tem a obrigação de vir a público para conclamar os desatinados a buscar formas mais civilizadas de protestar.
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