quinta-feira, 18 de julho de 2019

Bruno Boghossian: Ciro e a esquerda em tom pastel

- Folha de S. Paulo

Ex-ministro busca primazia na esquerda, mas depende de ataques a outros personagens

Ciro Gomes tenta transformar as dissidências dentro de seu partido em peça de propaganda. Depois que a bancada do PDT rachou na votação da reforma da Previdência, o ex-presidenciável passou a liderar uma campanha doméstica contra Tabata Amaral e os deputados que apertaram o botão verde para a proposta de Jair Bolsonaro.

A reação furiosa evidencia um esforço para limpar a imagem da legenda, que viu 8 de seus 27 parlamentares traírem a orientação partidária. "A história vai registrar quem estava de um lado e quem estava do outro", declarou Ciro, na segunda-feira (15).

O pedetista mostra que pretende usar esse grupo de infiéis como escada política. Ao tratar o voto a favor da reforma como um comportamento intolerável, Ciro quer amplificar sua própria oposição à reforma e conquistar terreno na esquerda como adversário principal da agenda econômica do atual governo.

Na largada, ele conseguiu atrair alguns holofotes. O PT, que tem o dobro da bancada do PDT, deu todos os seus 54 votos contra a proposta, mas foi Ciro quem apareceu como antagonista de destaque —graças a seu embate com Tabata e companhia.

O pedetista praticamente reivindicou o monopólio dos ataques à novata. "Uma turma do PT fica agredindo a Tabata e o PDT como se nós fôssemos pouco fiéis à luta do povo, e o PT fosse o perfeito guia genial dos povos que não falha", reclamou.

Embora a caçada pública aos dissidentes funcione apenas como marketing, o partido tem o direito de abrir processos de punição e até de expulsão. É verdade que as legendas se tornaram um amontoado de siglas, mas seria melhor se elas seguissem programas nítidos.

Em busca de primazia na esquerda, Ciro tenta reforçar sua figura e evitar a diluição das cores de seu partido. Enquanto aposta no ocaso dos petistas, o ex-presidenciável anuncia que não admite se embrulhar numa bandeira em tom pastel. É curioso, no entanto, que a briga por protagonismo dependa sempre de investidas contra outros personagens.

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