Para Steven Levitsky, populistas perdem legitimidade na crise e o mesmo deve ocorrer no Brasil
Por Malu Delgado | Valor Econômico
SÃO PAULO - “A resposta do Brasil no combate à covid-19 é horrorosa”, “a performance de Trump e Bolsonaro está entre ruim e terrível” e a “crise política no Brasil parece muito mais séria do que a dos Estados Unidos”. Essas são algumas constatações do cientista político americano Steven Levitsky, autor de “Como as democracias morrem”, que participou ontem de webinar organizado pela Fundação Getulio Vargas (Escola de Políticas e Governo) para debater os desafios das democracias no enfrentamento à pandemia.
Para Levitsky, o quadro do Brasil “não é bom”, e a covid-19 pode provocar efeito devastador na América Latina. Ao analisar o comportamento de parlamentos e de líderes populistas no combate à pandemia, ele enfatizou que presidentes com as características de Jair Bolsonaro e Donald Trump, claramente populistas, têm dado respostas administrativas extremamente lentas no combate à doença pelo fato de ignorarem recomendações científicas e por terem passado semanas, como o brasileiro, negando a gravidade da doença.
“Como resultado, a performance deles está entre ruim e terrível”, afirmou. Levitsky não necessariamente relaciona esse tipo de governo populista como um dano à democracia. Ao contrário. Segundo o cientista político, esse tipo de liderança pode ter a sua legitimidade e o apoio popular minados antes de concluírem os respectivos mandatos.
Ele reconheceu, no entanto, que a resiliência de Bolsonaro, até o momento, é peculiar. “Trump e Bolsonaro, por exemplo, talvez sejam os únicos dois presidentes da Terra eleitos que não tiveram ainda significativa redução de apoio popular. Quase todos os outros presidentes e primeiro-ministros tiveram quedas de 10% a 25% de popularidade”, enfatizou, citando os casos específicos de Emmanuel Macron [França], Sebastian Piñera [Chile] e Boris Johnson [Reino Unido]. Porém, pontuou, “Donald Trump está mais fraco hoje do que dois, três meses atrás”. A conclusão do professor é que ainda que gradualmente, as atitudes desses líderes populistas terão consequências nefastas e inevitavelmente eles estão minando suas próprias administrações. “Talvez eu esteja sendo otimista, mas há um número significativo de populistas que performam pessimamente [na pandemia] e estão se enfraquecendo.”
Para Levitsky, as democracias que elegeram líderes autoritários, como Brasil e Estados Unidos, passarão por testes importantes nas eleições. “Obviamente um dos grandes testes é se os governos autocráticos vão usar a pandemia para cancelar ou adiar as eleições”, observou. Ele pontuou que Trump poderá tirar vantagem deste quadro, pela simples razão que o presidente americano evita, até o momento, qualquer discussão sobre o impacto da pandemia nas eleições. As eleições americanas podem virar um verdadeiro caos, aglomerações e filas enormes podem ocorrer. Uma votação virtual, que permita às pessoas votar sem sair de casa, exigiria regulamentação e um debate profundo da Casa Branca com o Congresso. “Trump simplesmente se recusa a fazer qualquer coisa. Cruza os braços e não faz nada.” Esse é um jogo que o americano pode fazer ao perceber que a reeleição está ameaçada, disse.
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