É uma decisão preocupante num momento em que a taxa de ocupação de leitos cresce na cidade
É temerária a decisão do prefeito
Marcelo Crivella que autoriza a volta de torcedores ao Maracanã a partir de 4
de outubro, na partida entre Flamengo e Athletico Paranaense. O episódio expõe
os equívocos da flexibilização como vem sendo implementada e vai além do campo
esportivo, pois envolve questão de saúde pública.
Os argumentos de Crivella não se
sustentam. Para ele, a reabertura do estádio às torcidas é uma forma de
diminuir a presença de gente nas praias, onde as aglomerações têm sido uma
constante, principalmente nos fins de semana. Daí a ideia de pedir à CBF para
que os jogos ocorram às 11h. No estádio haveria, segundo o prefeito, controle
mais rigoroso das multidões.
Ora, não é preciso ter 30 anos de praia
para saber que, ainda que a CBF aceite o horário bizarro, são públicos distintos,
em ambientes distintos. Os campeonatos têm vida própria, e a prefeitura não tem
como controlar o calendário das partidas. A menção às praias parece apenas um
pretexto para justificar a inpcia do governo para discipliná-las. Qualquer um
sabia que a decisão de liberar o banho de mar e proibir que as pessoas ficassem
na areia tinha tudo para dar errado.
A medida de Crivella também desagradou
aos clubes, com exceção de Flamengo e Fluminense, que administram o Maracanã. A
reabertura cria situação de desigualdade, já que os outros times jogam com
portões fechados. Pelo país. As reclamações se multiplicaram, sem direito a
VAR.
O absurdo maior é a ameaça à saúde
pública. Mesmo considerando que o Maracanã teria um terço da capacidade e que
fossem cumpridas regras como uso de máscaras e distanciamento, o risco não está
afastado. Ao contrário, é praticamente certa a presença de infectados na
torcida e altíssima a probabilidade de contágio.
O comportamento dos torcedores, que
cantam e gritam o tempo todo, facilita a disseminação. Numa doença transmitida
pelo ar, “superdifusores” podem passar o vírus a dezenas ou centenas de
pessoas, como demonstram inúmeros exemplos de contaminação em cultos religiosos
ou eventos esportivos. Nenhum país do mundo reabriu estádios à torcida sem que
o vírus estivesse sob controle.
A autorização é ainda mais absurda por
ocorrer num momento em que a ocupação de leitos e a média de mortes no Rio
voltam a subir. Crivella tem culpado a população pela alta. É verdade que parte
dos cariocas tem desrespeitado as normas para prevenção da Covid-19, promovendo
aglomerações em praias, bares, festas e bailes funk — contribuindo, assim, para
disseminar a doença. Mas responsabilidade maior tem o prefeito, ao tomar
decisões estapafúrdias, sem amparo na Ciência, que só agravam a situação.
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